terça-feira, 15 de junho de 2010

As histórias desagradáveis parte 1

É meio redundante falar do processo de criação das Histórias Desagradáveis. A maioria delas surgiu há muito tempo, pelo menos uns dez anos. Em 2008 juntei todas no projeto que o FAC (Fundo de Apoio à Cultura, da Secretaria de Cultura do Distrito Federal) aprovou, aí começou o verdadeiro processo de escrita.

Tudo demorou e a demora era uma boa desculpa. Demoraram a liberar a verba, então eu não me dedicava. Demoravam a passar as crises pessoais, eu esperava. Demoravam a passar os dias eufóricos, os dias deprimidos e os contos lá, na tela do mac, no pc do trabalho, no máximo uma, duas horas de trabalho por dia.

Além disso, paralelamente e em passos também lentos, eu desenvolvia o projeto do livro sobre o Kwed’Bessenken, terreiro de candomblé jeje da amiga C. A pesquisa terminada, o livro formatado (ficou lindo, mas falta revisão, legendas das fotos, etc), não havia mais desculpas, eu tinha que me dedicar aos contos.

Quando achei que estavam prontos, mandei-os para M. e A. (com os devidos agradecimentos). Me deram um banho de água fria. M. escreveu uma página inteira de broncas, de críticas, de puxões de orelha maternais (os lugares-comuns, as repetições, os vícios de linguagem, dentre outros). Sugeriu mudanças, retirar os piores, deu notas para os passáveis (muitos sete, alguns oito e nove, e dois dez!).

A. leu com muita atenção. (A capa seria uma de suas fotos maravilhosas). Apontou problemas de continuidade, de coerência, de construção. Só que demorou demais. Quando ele mostrou as anotações, as histórias já eram diversas das que ele tinha lido. O que ele apontou foi retrabalhado nas novas versões.

Tomei vergonha na cara. Me entreguei. Até tirei férias para trabalhar. Foram dias maravilhosos. Eu acordava cedo, nadava, sentava no computador, escrevia até a hora do almoço, dormia meia hora, voltava para os textos, malhava, lanchava e pegava no batente de novo até meia-noite, uma da manhã, todos os dias. O próprio escritor.

Com o fim das férias (só 10 dias), as histórias tomaram corpo, consistência, vida própria. Algumas foram totalmente reescritas. Outras quase não sofreram modificações. As piores foram para a pasta das inclassificáveis. Mandava as histórias para a revisão. Quando voltavam já tinha mudado tudo, mandava de novo, duas, três, dez vezes (grato também à paciência da revisora).

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