segunda-feira, 11 de novembro de 2013

estado de coma


Estado de Coma foi meu primeiro livro. De poesias e desenhos. Ambos hoje sofríveis, mas com a força e a vida de um adolescente confuso, perdido e no mínimo corajoso. Isso foi em 1979.

Era uma tiragem ambiciosa: 500 exemplares. Parte do livro foi impressa em mimeógrafo. Outra, clandestina, nas máquinas xerox da empresa onde eu trabalhava como office-boy. A única edição esgotou-se. Alguns exemplares foram vendidos nas mesas do Beirute e do Arabeske. A grande maioria foi distribuída para a multidão de pedestres, camelôs, hippies, travestis, funcionários públicos, vagabundos, etc que circulavam no calçadão da plataforma superior da rodoviária.

O lançamento foi uma quase-performance (naquela época eu nem sabia que isso existia): eu, cabeleira à la Doces Bárbaros, vestido de bata indiana e calçado com sandálias de corda, declamando e lançando folhas dos poemas ao vento, no mirante da Torre de Televisão. Nem é preciso dizer que fui retirado à força, pelo segurança do local, por parecer menos um performer e poeta promissor que um suicida potencial.

Que eu saiba, ainda existem 2 exemplares. Um deles foi colorido à mão e transmitido como herança intelectual ao filho. O outro (descobri outro dia), está com um amigo artista plástico que, à época da publicação, trabalhava como escriturário na mesma empresa onde eu era boy, e que em algum momento foi espelho para a minha trajetória artística.

Mas a grande surpresa foi o bilhete acima. Minha mãe me entregou, emocionadíssima, outro dia. Quase 35 anos depois de escrito. Eu nunca soube dele, ocultado por ela sabe-se lá os motivos. Só elogios, em linguagem simples, coloquial, carinhosa. Não conheci o autor (Antônio Geraldo Ramos Jubé, poeta goiano falecido em 2010) e nem faço ideia de quem seja o destinatário Edison.

A primeira crítica será muito bem guardada. Pois, além do conteúdo histórico-afetivo, foi datilografada por tia Hemicênia, que sempre deu todo o apoio às manifestações canhestras do sobrinho.

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