sexta-feira, 22 de julho de 2011

Jonas, parte 1 de 3

Jonas e a Baleia, imagem do blog http://velhariasdoluis.blogspot.com

Vira e mexe o segmento humano da criação irritava Javé. Dessa vez a confusão era em Nínive. Mais ou menos onde hoje se situa o Iraque.

Os ninivitas eram o tipo de gente que ninguém queria ter próxima. De longa data rolavam picuinhas na vizinhança. Principalmente com os hebreus que, como todo mundo sabe, eram os filhos prediletos do papai Javé.

Ai de quem reclamasse. Era guerra na certa. Sangue. Carnificina. Os ninivitas faziam picadinho dos vencidos. Depois erguiam pirâmides com as cabeças decepadas. Também gostavam de crucificar prisioneiros. Ou empalar. Antes arrancavam-lhes os olhos e a língua. Direitos Humanos? Papo de boiolinha helênico.

Os maus hábitos dos ninivitas se assemelhavam aos dos sodomitas descritos anteriormente. Além disso, eram acusados de enriquecimento ilícito. Por causa dos despojos de guerra. Javé tinha dado uma chance, outra e outra. Nada da situação melhorar. Estava por aqui (punha a mão esticada na altura da garganta) com os ninivitas. Faltava menos da metade da metade de 1 gota d’água para o copo transbordar.

Javé pensou em uma saída. Analisou todos os ângulos da questão. O insight veio. Lá pelas 3 da madrugada:

a) Apesar de vultuoso, o empreendimento “criação” ainda era tímido. Mal atendia à demanda dentro das fronteiras de Israel.

b) Nínive era um centro econômico e cultural importante da região. Capital do Império Assírio. Demorava-se 3 dias úteis para atravessar a cidade à pé. Estrutura turística de 1º mundo. A biblioteca de Assurbanipal tinha o maior acervo de plaquetas com escrita cuneiforme. Os melhores espetáculos nos anfiteatros e circos. Arquitetura ousada. Galerias de arte internacionais. Resorts sofisticados às margens do rio Tigre, nos moldes de Babilônia. Referência gastronômica em todo o Oriente Médio e Próximo. Etc.

c) A equipe chefiada por Javé era composta por Profetas masters, sêniors e alguns júniors. Atuavam em sua totalidade na parte administrativa, burocrática, com pouca interação com o público.

Porque não realizar uma megacampanha em Nínive?, Javé pensou. Conquistaria nicho importante do mercado externo; milhares de novos adeptos e/ou simpatizantes; e ainda poupava os ninivitas do destino de Sodoma e Gomorra.

A estratégia publicitária era simples: 1) ameaçar de destruição nos principais veículos de comunicação; 2) estipular prazos: 40 dias, nem 1 minuto a mais; 3) enviar um gerente para convencer a população a se converter; 4) demonstrar magnanimidade; e 5) não destruir.

O gerente responsável pela campanha seria Jonas, o novato. Que era sindicalizado. Briguento. Nacionalista radical. Turrão. Que não suportava o domínio dos ninivitas na região. Que ainda não tinha pegado o jeito do serviço. Que não tinha muito o que fazer. Que tinha potencial, mas precisava ser moldado.

Sexta-feira à tarde. Jonas engavetara os processos da semana. Estava pê da vida porque Javé tinha marcado uma reunião, tipo evento corporativo, no oásis. Justo no shabbat! Irritantes os métodos administrativos modernos de Javé. O jeito era obedecer.

Depois de apresentar o novo projeto de expansão, Javé determinou as funções. A Jonas coube (no jargão de Javé) adivinhem o quê? O desafio de converter Nínive.

Logo Nínive, que espoliava, escravizava e maltratava os hebreus desde que Jonas se conhecia por gente.

“Eu quero é mais que Nínive seja destruída!”, ele desejou. Quis declinar. Não teve coragem. Contradizer Javé era demissão sumária. Ficou de pensar. De responder no primeiro horário da segunda-feira.

“Caramba”, Jonas pensou. “Porque eu? Porque Javé mesmo não cuidava do assunto?” Imaginou a dificuldade que enfrentaria em convencer aquele povinho uó de qualquer coisa que fosse. “Pô, se quisesse, com um telefonema Javé resolvia o problema!”.

Ao invés de pedir dispensa da missão, Jonas tirou um atestado médico. 15 dias. Comprou passagem em um cruzeiro marítimo em Jaffa e partiu no dia seguinte. Em direção oposta a Nínive. Para Társis, na exótica Espanha. Lá, pensou, Javé nunca o encontraria.

O embarque se deu em uma manhã ensolarada. Com medo de ser descoberto Jonas nem quis permanecer no convés, usufruir das diversões do navio: cassino, piscina, shopping, shows. Comprou a cabine mais escondida no andar mais inferior, no corredor menos movimentado possível. Mal desfez as malas, deitou-se e dormiu.

Nenhum comentário: