segunda-feira, 25 de julho de 2011

Jonas, parte 3 de 3

Gustave Doré - Jonas rejeté par la baleine

Quem se lembra da história de Pinóquio? Da parte onde ele é engolido pela baleia? Com Jonas aconteceu igual. Caiu do barco direto na boca do bicho. Permaneceu 3 dias e 3 noites dentro do peixe. Uns dizem que era baleia. Outros, um tubarão gigante. Outros ainda, precavidos, falam só em um grande peixe (kétos, em grego), sem especificar. De um fato ninguém duvidava: o peixão era outra novidade de Javé.

(Tá, é meio mirabolante, ninguém acredita que alguém sobreviva após ter sido engolido por um peixe. Pesquisei. Está no Google: tubarão gigante existe. Pode atingir 20 metros de comprimento. 3 toneladas. Dentro do tubarão gigante cabe, folgado, uns 3 Jonas. Outro bicho plausível seria o cachalote. O Google conta peripécias parecidas à de Jonas vividas por um marinheiro irlandês. Fala que o espaço interno do cachalote é do tamanho de um loft mobiliado: conforto máximo em espaço mínimo).

Pinóquio acendeu uma fogueira no bucho da baleia. A fumaça fez o bicho tossir e espirrar, expelindo-o, junto com o Grilo Falante e Gepetto na praia. Com Jonas foi parecido. Na terceira noite o celular tocou. Era Javé. Perguntando se Jonas tinha aprendido a lição. Se estava preparado para se apresentar no escritório em Nínive na primeira hora da segunda-feira.

Sim, estava. O kétos cuspiu Jonas na praia. Jonas correu para Nínive. Demonstrou eficiência. Em pouquíssimo tempo coroou a missão de sucesso..

Mas intimamente Jonas estava insatisfeito. Achou que a rapidez na superação das metas tinha o dedo de Javé. Que a adesão dos ninivitas ao Plano era fogo de palha. Quis pagar para ver os antigos inimigos de Israel voltarem a cometer as atrocidades contadas na parte 1. E serem finalmente destruídos pela ira de Javé. Demitiu-se.

Javé não queria perder aquele gerente promissor. Convenceu-o a tirar uma licença sem vencimentos.

Jonas alugou uma tenda no alto do morro, de frente para Nínive. Para assistir de camarote a cidade desandar.

Javé arquitetou outro plano. Daqueles pouco convencionais. Embasado em técnicas administrativas modernas. Outra lição para Jonas. Mandou por sedex uma muda de aboboreira. Não daquelas aboboreiras rasteiras, de talo oco, folhas largas, peludas, flores amarelas. Javé tinha espírito de artista. Era uma árvore de abóboras. Tipo jaqueira.

Jonas achou o máximo. Mal enfiou as sementes na terra, puf! a árvore cresceu. A ponto de lhe sombrear a testa. Jonas passou o dia adubando, aguando, podando a árvore para no dia seguinte colher abóboras maduras. Nem pensava mais na raiva que sentia dos ninivitas.

À noite, enquanto Jonas dormia, Javé mandou lagartas devorarem a aboboreira. Só deixaram o tronco.

Era verão no deserto. Calor de rachar. Secura. Jonas devia estar desidratado. Desfaleceu de desgosto ao ver a aboboreira seca. Ao ver que os ninivitas continuavam adeptos ao Plano de Javé.

Javé já esperava por aquilo. Encontrou Jonas desmaiado. Delirando:
- Eu quero morrer! – Jonas murmurou.
- Morrer porque? – perguntou Javé.
- Porque a aboboreira tão linda morreu de repente.
- Pô, não é incoerência desejar morrer por causa de uma aboboreira e não estar nem aí para os habitantes de Nínive? – Javé retrucou.

Jonas entendeu o subtexto. Cancelou a licença não remunerada. Foi trabalhar na Seção de suporte e manutenção do Plano de Javé, em Nínive. Dizem que o crescimento do empreendimento na região foi estratosférico.

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