sábado, 23 de julho de 2011

Jonas, parte 2 de 3


Jonas - Aleijadinho - Ouro Preto
Mal o navio abandonou a costa de Jaffa, o ar ficou carregado. O tempo virou. Ventania, nuvens pesadas, relâmpagos, trovões, ondas encapeladas. O navio oscilava a ponto de emborcar. O capitão e os marujos apavorados tentavam aprumar o leme, remendar a vela rasgada pela força do vento. Os feitores chicoteavam os remadores com mais força. As sirenes soavam. O sistema de comunicação entrou em pane. A bússola desgovernou. Cena de Titanic. 
E Jonas? Apagado, na cabine, ressonando como um cordeirinho.
Os passageiros corriam como baratas tontas no convés, vomitavam nas amuradas. Imagina se eles tivessem visto os tubarões rondando o barco - o caos seria total. Todo mundo implorando ajuda do além: Alá, Iansã, Buda, Ganesha, Tupã, Rá, Assur, Odin, Zeus, Júpiter, Quetzalcóatl, e nada da tempestade amainar. Só não se ouvia o nome de Javé. Foi quando o capitão se lembrou do hebreu embarcado em Jaffa. 

Jonas acordou atordoado. Quando o capitão relatou a fúria da tempestade e a tragédia iminente, Jonas sacou na hora: aquela reação era típica de Javé. E somente ele, Jonas, por ter fugido da missão, dos desígnios, era o culpado. Tentou ligar para o chefe, pedir para amainar a tempestade. Droga, sem sinal. Bom, o jeito era ajudar o pessoal lá em cima, no convés.

Os marinheiros tinham aliviado toda a carga do navio no mar. Jogaram móveis, bagagens, decoração, tudo que fosse supérfluo. Estavam tão malucos que tiravam zerinho-ou-um para escolher o primeiro dentre eles a ser atirado ao mar. Peraí, peraí, Jonas interrompeu. Assumiu a culpa. Ofereceu-se. Os marujos nem pensaram duas vezes. Jogaram Jonas ao mar.

Tiro e queda. A tempestade cessou na hora. O sol voltou a brilhar. O navio seguiu o rumo.

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