sexta-feira, 9 de setembro de 2011

(férias em Electric City)

(http://dream-exchange.blogspot.com)

Há sempre mais o que o enredinho fraco, personagens que não vêm ao caso, o fato de estar largado, ou largando algo, ou sendo largado por algo, inútil, obsoleto, algo que existiu sempre, algo que há muito tempo não servia mais, algo que nunca tinha servido.

A terceira perna perdida mantinha a estabilidade, isso já foi dito um milhão de vezes, a terceira perna, amputada, ao invés de dinamizar o momento simplesmente fez com que algo desandasse, algo precipitasse, queda, esborrachamento, plof, algo saco plástico cheio de água do segundo andar, algo anti-clímax.

Continuando na vertente dos membros amputados, a existência sensorial e imaterial daquilo que deixou de ser, de existir, lixo hospitalar, perna, cotoco de braço, dedo, ponta da língua bifurcada impedindo a articulação dos sons, piercing inflamado gangrenando os tecidos, pensamentos-borbotões cerzidos no tecido quase podre, esgarço, traça, pulverização.

É óbvio que isso tudo era para falar de gozo, falar do jato amarelo e viscoso das palavras escorrendo entre os dedos, garoto-arcanjinho safado colado com fita adesiva no espelho do banheiro, efebinho passivo crucificado com alfinetes de segurança, rosa-dos-ventos nos pentelhos, anjinho sem prepúcio, é, as amputações, excrescências de pele adquirem sentidos insuspeitados, garoto-de-todos-os-garotos impossibilitado de estrebuchar, quer coisa mais cafona que se apaixonar pelo garoto-pássaro?

Claro, aquele enredinho frouxo, aquela segurança de rotular a mediocridade, sim, eu, tu, ele, nós, vós, eles, tempos verbais perfeitos e imperfeitos chafurdados na mediocridade, a mediocridade não salva, acabou o tempo, acabou o espaço das palavras vindas do desespero e da tormenta, a boca cheia de cera derretida e penas das asas do garoto-gralha, do garoto-topete, do garoto-cacatua, pelo menos havia o gozo, pelo menos há o abismo.

Há sempre o abismo, e eles são sempre mais impetuosos, os garotos-pombos, os garotos-vulvas, os garotos-vacas, eles se lançam, eles negam, não em nós, eles dizem, deitados de costas, as peles fosforescentes, vem, eles chamam, enquanto enfiam palavras-negativas com as pontas dos dedos, com as pontas das línguas nos ouvidos ou nos ânus dos caras que pagaram por aquilo, não, eles gemem, mais, em nós não é possível, vem, tudo agora, a mediocridade é o atributo exclusivo do outro.

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