quarta-feira, 28 de setembro de 2011

leituras do dia 3 - otto friederich

"Antes de publicar seu ensaio [O Teatro e a Peste] Artaud fez uma palestra sobre ele na Sorbonnne e, de repente, começou a tentar encenar os efeitos da peste nele mesmo. 'Seu rosto contorcia-se de angústia, podia-se ver a transpiração empapando seus cabelos', nas palavras de Anaïs Nin, que assistia da plateia. ' Seus olhos se dilataram (...). Ele estava agonizante. Gritava. Delirava. Encenava sua própria morte, sua própria crucificação.' Os espectadores de Artaud ficaram com a respiração em suspenso diante dessa exibição, e depois caíram na gargalhada e começaram a se retirar ruidosamente, batendo as portas na saída. Artaud pareceu não se importar. 'Quero despertá-los', disse mais tarde a Anaïs Nin, num café. 'Eles não percebem que estão mortos'. O pobre Artaud já estava meio louco na ocasião e sua deterioração parecia inexorável. Foi para a Irlanda, levando consigo o que insistia ser a bengala de São Patrício e buscando os segredos ocultos do universo. Convenceu-se de que o mundo acabaria em 1940, o que, em certo sentido, aconteceu. Quando os exércitos de Hitler entraram em Paris, Artaud estava confinado numa instituição psiquiátrica, uniformizado e de cabeça raspada, e ali permaneceria durante toda a guerra".

(O Fim do Mundo)

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