Arrasto os móveis. Varro os cantos. Espalho naftalina nas
gavetas. Pulverizo inseticida nos ralos. Estendo os cobertores ao sol. Para expurgar
o mofo do inferno dos dias da tua ausência.
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Foi com o vidro quebrado do teu retrato – aquele com cachecol vermelho e sorriso com todos os dentes – que rabisquei na carne do braço este bilhetinho de adeus.
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Despregassem as geleiras do teu sarcasmo. Engolisse-me a avalanche das tuas falácias. Esguichasse na minha cara o gozo do teu descaso - e eu continuaria ali, cão, atento, pastorando, do lado de fora, a porta de nosso corpo-casa.
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Não disfarço a ansiedade ao buscar, entre as chaves do carro e as moedas do troco da padaria largadas na mesa-de-centro, o cheiro, o pó, os resquícios, os cacos, os sachês do paraíso-céu de onde você chega e me proíbe imaginar.
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Não, eu não espero nada mais que isso. Eu construo pontes das migalhas que você espalha no meu tapetinho de dormir.
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