Há pulgas nos estofados. Dinossauros nas costuras do colchão. Torpedeiros e tanques de guerra escondidos entre as dobras do cortinado.
Escrevo e depois rasgo uns errados de mim. Me acabo nos chocolates e nas diatribes interiores. Quebro copos, durmo sem banho, como comida fria, apago as luzes, ligo a música alto. Impertinente, deito-me nu na varanda para respirar a poeira das estrelas.
(Onde mesmo eu li isso?)
Boto labaredas pelas ventas. Uivo e corro com os lobos. Grasno com os corvos pelas estepes. Roo até o cerne das unhas. Tusso hemoptises e desacerto o alvo dos amores frustrados. Acho que tomei arsênico, barbitúricos ou gin-tônico em excesso.
Serpentes de silicone, morninhas e úmidas, me lambem a virilha durante os sonhos. Acordo inundado de nostalgia, com as mãos cansadas e um tremor nos cantos dos olhos. Olhos esses que só me mostram no espelho a indecência de um tritão decrépito.
Perdi de novo a oportunidade de espiar brincadeira dos fauninhos na praia ao alvorecer. Só de cueca uns, ou mesmo nus, espargindo água gelada uns nos outros. Da próxima vez programarei o despertador para as 5:00 a.m.
Agora eu já posso recordar. A travessia foi tranquila. As águas eram muito azuis. A mulher ao meu lado murmurava uma canção antiga. O vento era suave e me desarrumava os cabelos e fazia com que a ponta da echarpe me batesse o tempo todo à boca. O continente afastava-se, rápido, às minhas costas. Adiante, o mar, as ondas, os nevoeiros, as tempestades e as noites de estrelas. Depois ainda, e algum dia espero não muito distante, o costado da ilha que talvez nunca conseguirei mapear.
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