Roupinha lavada e passada, comidinha na hora, bolsa de água quente aos pés da cama de madrugada, mãozinhas de menina massageando as costas. Não fosse a pitada de vidro moído na comida dia sim dia não, chegava, fácil, aos 100 anos.
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Apaixonada pelo Zorro da Sessão da Tarde. Café no copo, bolachas Maria na bandeja e o boa-noite, na ponta da língua, para oferecer ao repórter grisalho do jornal das 8.
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Aos 60, corria 2 quilômetros e tomava banho frio no inverno. Aos 70 o substituiu a natação pela hidroginástica. Aos 80, caminhada leve e alongamentos para não forçar o joelho. Chegou aos 100 completamente lúcido. Roçando os peitinhos das meninas do retiro.
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Novelos de cabelos embrulhados em papel de seda. Balas de leite derretidas, ainda do aniversário de 80 anos. Crucifixo faltando um braço e correntinha de ouro arrebentada. Vidros de remédio vazios. Sacos de pão tão bem dobradinhos que pareciam novos. Moedas velhas, fichas de telefone e arruelas na lata de Nescau escondida no fundo da mala.
Um comentário:
Eu quero é não sofrer, nem fazer sofrer. Asseguradas essas condições, acho que tanto faz...
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