Na maioria das vezes ela vinha depois que se apagavam as luzes: luminescência, quase impressão, sonho, somente, não fosse a coceira, a ardência, as erupções cutâneas dela consequentes, como já foi dito.
Mas também cabia de ela vir pelo cheiro. Era o aroma enjoativo dos jasmins e das damas-da-noite, obviamente noturnos, depois das luzes apagadas.
Em ocasiões raíssimas ela se manifestava durante o dia, no aroma que uma lufada repentina de vento fazia exalar da fileira de camélias plantadas na calçada até o refeitório, ao meio-dia. Também era ela quando os lençóis recém-trocados nas manhãs dos sábados, lavados com sabão ordinário, sem mais nem menos rescendiam a lavanda, quando, depois do almoço, nos recolhíamos para a sesta, e os amarotávamos com os pesos dos nossos corpos, ou os maculávamos com os cheiros do nosso suor, das salivas das nossas babas nas fronhas, dos nossos gozos, solitários ou clandestinamente compartilhados.
Ou ainda era ela no breu, no sândalo e na mirra que, sem mais nem menos, mesmo sendo a missa só às manhãs dos domingos, invadia o dormitório, e antecipava o pecado, ou a culpa decorrente dele, da transgressão, a condenação, o padecer e a absolvição - a mão gosmenta batendo no peito, minha culpa, nossa culpa, nossa tão grande culpa admitida - e era nada mais que a presença incontestável dela, o perfume dela, o gosto dela, ainda indistinto, porém indelélvel e inconfundível, nos nossos corpos.
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