quinta-feira, 25 de outubro de 2012

novela

Nos primeiros capítulos, entre eles tudo era amores: jantares, presentes, olhares, flores, resorts, suítes de motel, luar e até um ciumento dia dos namorados.

Lá pela metade, os capítulos se espicharam e a paixão arrefeceu. Vieram os primeiros deslizes, as mentirinhas, as omissões e os mil vezes malditos telefonemas e mensagens sem retorno.

Na reta final, forjou-se a separação. Com expectativa de reconciliação. Para recuperar os índices de audiência.

No entanto, a última semana foi um fracasso. Apesar dos segredos bombásticos revelados (as maldades da malvada, a filha bastarda, a morte do bom moço, a operação para mudar de sexo, o golpe do baú, a bancarrota, o julgamento do inocente, etcétera) - apesar de tudo, a reconciliação prometida não aconteceu.

O fim chocho foi cada um para o seu lado. Sem festa, sem buquê, sem apoteose. Na última cena, em seu apartamento penumbroso, um ligava para o outro. O outro, à beira da piscina, só risos, música alta e gente bonita em volta. Olhava o mostrador do aparelho. Sorria um sorriso de escárnio. Deixava tocar até a bateria acabar.

O que tinha ligado olhava para a câmera. Como se dos pulsos cortados fosse esguichar no telespectador a falta de sentido de toda a dor, todo o sofrimento imputados e acumulados, capítulo a capítulo, até as cenas da próxima novela.




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