(Foto da foto de Dora Levy, no catálogo da instalação Grande sertão: veredas, concebida para a inauguração do Museu da Língua Portuguesa, São Paulo, março de 2006) |
Ganhei de presente outro dia uma edição especial comemorativa dos 50 anos do Grande sertão: veredas, acompanhada de um catálogo da instalação de Bia Lessa criada para a inauguração do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, em 2006. Eu vi a exposição mas por pão-durice ou falta de grana mesmo, não tinha comprado o pacote.
Depois de tantos anos, revendo o material, escrevi há pouco uma crítica retardatária e presunçosa. Dois trechos:
Elementos da instalação são um verdadeiro luxo: as 415 folhas dos originais, datilografadas e corrigidas pelo autor, foram reproduzidas e impressas em tecido, em grande formato, e dependuradas por todo o espaço, podendo ser manuseadas e lidas pelos visitantes por meio de um sistema de roldanas e contrapesos feitos com saquinhos de areia. A instalação podia ser percorrida seguindo-se 7 roteiros marcados no chão, representando trajetórias dos personagens (Riobaldo, Diadorim, Interlocutor, Diabo) e/ou eventos-acontecimentos do/sobre o romance (Estudos para Obra e Original, Fragmentos, Batalha).
Bia Lessa (diretora, atriz, artista multimídia) afirma no texto de apresentação a impossibilidade de trabalhar o Grande Sertão em imagens. Então ela borda, imprime ou projeta fragmentos do texto do romance aplicados a tecidos, tapetes e materiais de construção: pilhas de tijolos, andaimes, tambores, galões, baldes, cordas, terra vermelha, areia, restos e entulhos aproveitados da própria obra do recém-construído Museu.
Daí em diante meu texto foi só detonação. Abusei de palavras depreciativas: sujeira, equívoco, superficialidade, etc.
Antes de publicar, resolvi ver/ouvir o CDrom que acompanha o catálogo. Rememorei a visita há 8 anos.
Fiquei tão fixado no não-gostar dos materiais de construção e escombros e entulho usados como suportes dos fragmentos de texto que me esqueci da beleza da parte tecnológica da instalação - as projeções de vídeos; os depoimentos (Antonio Callado, Antonio Cândido, Décio Pignatari, Haroldo de Campos e vários outros); das fotografias; e da emocionante leitura do trecho final do romance, por Maria Bethania - presentes na instalação e no CDrom).
Então entendi que não tinha entendido nada. O simplista, o sujo, o equivocado, o superficial era eu. Eu me senti ridículo, idiota. Me arrependi. Só não apaguei o texto para guardar, para me lembrar, daqui para a frente, em pensar 100 vezes antes de falar mal de algo que a inteligência não alcança.
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