sábado, 19 de abril de 2014

diário oculto 1

Deu a louca nos últimos dias, um pico de energia interior: eliminar os itens da agenda que se acumulavam por meses, somente sendo transferidos para as páginas das segundas-feiras seguintes. Comprei e instalei parcialmente a TV, calças novas, adiantei projetos emperrados, consultei dermatologistas, oncologistas, marceneiros & mestres de obras. Envenenei ou tentei envenenar as fileiras infindáveis de formigas da cozinha, os exércitos intergaláticos de formigas do jardim e do quintal, as baratonas do quartinho. Fui a lançamento de livros, exposições, regularizei pendências com a Receita Federal, levei o carro para a revisão, fiz supermercado, fichei livros, escaneei imagens ad infinitum e  lista reduziu-se a 1/3. Já pensando quais os tantos novos itens a acrescentar.

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A Bienal do Livro é o megaevento cultural que estão tentando plantar na cidade, no centro da Esplanada dos Ministérios. Iniciativa louvável. Muito dinheiro investido, escritores convidados do Brasil e do mundo, palestras, rodas de debate, temas interessantíssimos. Porém, em uma instalação gigante, porém horrorosa, no coração de Brasília: barracas de lona plástica ligadas por passarelas estendidas sobre o gramado, feitas de tablados de compensado rangente, cobertos por velhos carpete, acesso difícil e perigoso (um único semáforo, posicionado na extremidade oposta à entrada principal da feira), entradas mal sinalizadas, etc. Com tantos espaços mais adequados, qual a razão (a não ser a exposição midiática gratuita, em ano eleitoral) de fazer naquele local?

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Era um debate sobre políticas ambientais, ecologia, desenvolvimento sustentável. O escritor e biólogo moçambicano Mia Couto era a atração principal. Na mesa outro ilustre: o presidente de Gana, John Dramani Mahama. E um professor-cientista, de sobrenome Nobre. Mediados por uma senhora apresentadora de telejornal global e dona de blog sobre o tema. Pois que a senhora focou as perguntas no professor-doutor Nobre, porta-voz oficial governamental,

A mediadora parecia venerar o Professor. Direcionava-lhe a maior parte das perguntas. Que o Professor respondia em um tom monocórdio, tecnocrata, um discurso entediante de números e estatísticas. Que simplesmente abafou os demais convidados. O homem não parava de falar. Como se estivesse em uma reunião de ministério, falando para outros tecnocratas. A moça incentivava. O público se desinteressava. A moça mal deixou o presidente de Gana falar (suas falas eram simples, fluentes, cheias de emoção, que o público parecia ávido de ouvir). A irritação de Mia Couto era visível. Suas falas, poéticas, porém muito claras e sintéticas, cada vez batiam de frente com as do professor. Resultado frustrante e constrangimento no final.

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Correria burocrática para resolver o irresolvível. Sensação de perda de tempo, de falta de respeito, de sei lá o quê.

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