Abro outra cerveja. Recapitulo o dia, a semana, o semestre, os últimos cinco ou dez séculos. Projeto pontes pênseis para o próximo milênio. Para a próxima existência.
Replico universos paralelos e realidades divergentes. Escrevo ficções enquanto a existência se distrai. Sobreponho fatos que poderiam ter sido e incertezas que nunca se comprovarão.
"Focalize o lado claro das coisas". "Envenene-se antes". "Neutralize a negatividade". "Mergulhe na lama e na lava e na merda existencial". Definitivamente eu não devo dar ouvido aos conselhos contraditórios das Eumênides.
(Eumênides é um eufemismo para evitar escrever/pronunciar o verdadeiro nome das Erínias: Megera, o rancor. Alecto, a cólera. Tisífone, a vingança implacavel). Pronto, falei.
Constato, admito e bato três vezes no peito: os triângulos são inexoráveis.
Cumpro o programa. Queimo etapas. Supero metas. Finalizo roteiros. Mas falho nas proposições. Ontem mesmo eu deveria ter resistido às investidas do implausível e permanecido casto & puro & virginal até o próximo intervalo comercial.
Ando pobre de gramática e de vocabulário. Hesito na colocação dos pronomes. Atravesso na adequação dos tempos verbais. Locupleto adjetivos e advérbios como olhos-de-sogra e casadinhos.
Passa da uma hora. Melhor dormir e sonhar. E acordar como a doce Ofélia, cabelos embaraçados às algas e às raízes do fundo do regato.
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