quinta-feira, 12 de abril de 2012

diário de férias do velho sátiro

Perco a conta dos dias chuvosos e a esperança do estio. Desperdiço a eternidade esperando impossibilidades. Enquanto o extraordinário não chega eu converso sem olhar nos olhos da mulher dos cabelos de serpentes.
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Recorto olhos das páginas das revistas. Separo os ases dos coringas. Subo e desço escadas carregando rochedos. Decifro palavras borradas de lágrimas e gotas de chuva. Distingo mortos e vivos nas fotografias das férias passadas. Bebo toda a vodca e arroto bilhetes nas garrafas vazias. Gozo nos rabiscos de corações flechados na porta do banheiro. Enfio a cara no travesseiro e rogo pelo fauninho. Adormeço com as harpas do som ambiente e o sinal do telefone ocupado.
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Com fungos nas reentrâncias. Escoriações na pele das coisas. Parasitas nos pêlos púbicos. Detritos e carcinomas nos cascos. Galáxias de furúnculos no céu da boca. A alma lambuzada de pus e sangue e bile e suor e urina e lava e chumbo derretido.
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Esqueci o óbolo colado nas pálpebras. Perdi a última barca. Faltarei ao jantar e inventarei desculpas para declinar o pernoite na mansão dos mortos.  Perséfone nunca me perdoará.

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