Ouço os primeiros comentários dos primeiros leitores. Alguns constrangidos com algumas histórias. Adapto as palavras de Flannery O’Connor: “Desagradáveis? Na minha terra (a Geórgia, sul dos EUA) esse tipo de história é contado na mesa, no jantar da família, e todo mundo morre de rir”.
Flannery, junto com Faulkner, é considerada por muitos críticos uma das maiores escritoras americanas. É mesmo maravilhosa. Dizia fazer literatura católica. Mas a impressão provocada por suas histórias (muito desagradáveis) é, principalmente, a falta de esperança na capacidade de redenção do ser humano.
Copiei um trecho de matéria, na internet, sobre a coletânea de contos É Difícil Encontrar um Homem Bom, publicado pela Editora Arx, em 2003:
“O humor cáustico da autora lança uma luz crua sobre seus personagens miseráveis, carregando no grotesco. Dobras de gordura no pescoço, manchas no rosto e defeitos físicos são descritos em detalhe. Nesse elenco de aleijões morais, destacam-se as velhas damas do sul, tolas, orgulhosas e furiosamente racistas – a começar pela protagonista do conto-título, uma senhora egoísta que acaba colocando a própria família nas mãos de um assassino foragido. O ambiente religioso é sufocante, mas os personagens só invocam Deus para justificar os interesses mais mesquinhos. Em O Deslocado de Guerra, por exemplo, um refugiado polonês encontra trabalho em uma fazenda e ameaça o emprego do capataz negligente. A mulher do capataz, protestante aguerrida, só consegue ver o exilado católico como uma espécie de encarnação do demônio. O crítico Harold Bloom observa que Flannery recorria à violência de forma tendenciosa. Seu objetivo último seria conduzir o leitor, pelo choque, de volta à fé tradicional. Na última e desencantada página de cada um dos contos, porém, só o choque permanece. Não existe redenção possível para tanta violência”.
Flannery morreu em 1964, aos 39 anos, de lúpus, em sua terra natal. Ela é demais!
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