Vemos a perfeição dos objetos, mas ignoramos a qualidade deles, por isso os amamos, porque o amor quase sempre foge, assim que conhece a natureza do que ama. Os antigos pintaram ao amor cego, talvez para mostrar que o amor para ser confiante, é preciso que seja incapaz de ver, e que a falta de luz lhe sirva de prisão. Muitas coisas estimamos somente porque as não conhecemos, e outras porque as não conhecemos, as não estimamos; tanto é certo que não há nada certo no mundo; nos mesmos princípios se fundam muitas coisas contrárias, e opostas entre si.
(fragmento 97 das reflexões sobre a vaidade dos homens, matias aires ramos da silva de eça)
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
gotas de sabedoria
O aplauso é o ídolo da vaidade, por isso as ações heróicas não se fazem em segredo, e por meio delas procuramos que os homens formem de nós o mesmo conceito, que temos nós de nós mesmos. Raras vezes fomos generosos, só pela generosidade, nem valorosos só pelo valor.
A vaidade nos propõe, que o mundo do todo se aplica em registrar os nossos; para este mundo é que obramos; por isso há muita diferença de um homem, a ele mesmo; posto no retiro é um homem comum, e muitas vezes ainda com menos talento que o comum dos homens; portém, posto em parte donde o vejam, todo é ação, movimento, esforço.
Nunca mostramos o que somos, senão quando entendemos que ninguém nos vê, e isto porque não exercitamos as virtudes pela excelência delas, mas pela honra do exercício, nem deixamos de ser maus pela aversão ao mal, mas pelo que se segue e o ser. (...) de sorte que somos bons, é por causa dos mais homens, e não por nossa causa; (...) a dificuldade não está em persuadir a nossa vontade, mas o nosso receio.
(...)
A vaidade não teme as coisas pelo que são, mas pelo que se há de dizer delas;
(...)
Quem disse que o amor é cego, errou; mais certo é ser cega a vaidade. O emprego do amor é a formosura, e quem nunca a viu como a há de amar? No amor há uma escolha, ou eleição, e quem não vê, não distingue, nem elege; o amor vem por natureza, a vaidade por contágio; o amor busca uma felicidade física, e por consequência, material e visível; a vaidade busca um bem de ideia, e fantasia, e por consequência, cego.
(...)
Há porém na vaidade a diferença, que tudo o que se faz por vaidade, queremos que se veja, que se diga, e que se saiba; então é fortuna a publicidade, se é que nos parece, que o mundo inteiro não basta para testemunha; daqui vem que um furor heróico até chega a invocar o céu e a terra, para estarem atentos a uma ação; como tudo se faz pelo estímulo da vaidade, por isso se julga perdida uma façanha, que não tem quem a divulgue; como se um ato generoso consistisse mais em se saber do que se obrar. A vaidade que nos move, não é pela substância da virtude, mas pela glória dela.
(fragmento 68, reflexões sobre a vaidade dos homens, de matias aires ramos da silva eça)
A vaidade nos propõe, que o mundo do todo se aplica em registrar os nossos; para este mundo é que obramos; por isso há muita diferença de um homem, a ele mesmo; posto no retiro é um homem comum, e muitas vezes ainda com menos talento que o comum dos homens; portém, posto em parte donde o vejam, todo é ação, movimento, esforço.
Nunca mostramos o que somos, senão quando entendemos que ninguém nos vê, e isto porque não exercitamos as virtudes pela excelência delas, mas pela honra do exercício, nem deixamos de ser maus pela aversão ao mal, mas pelo que se segue e o ser. (...) de sorte que somos bons, é por causa dos mais homens, e não por nossa causa; (...) a dificuldade não está em persuadir a nossa vontade, mas o nosso receio.
(...)
A vaidade não teme as coisas pelo que são, mas pelo que se há de dizer delas;
(...)
Quem disse que o amor é cego, errou; mais certo é ser cega a vaidade. O emprego do amor é a formosura, e quem nunca a viu como a há de amar? No amor há uma escolha, ou eleição, e quem não vê, não distingue, nem elege; o amor vem por natureza, a vaidade por contágio; o amor busca uma felicidade física, e por consequência, material e visível; a vaidade busca um bem de ideia, e fantasia, e por consequência, cego.
(...)
Há porém na vaidade a diferença, que tudo o que se faz por vaidade, queremos que se veja, que se diga, e que se saiba; então é fortuna a publicidade, se é que nos parece, que o mundo inteiro não basta para testemunha; daqui vem que um furor heróico até chega a invocar o céu e a terra, para estarem atentos a uma ação; como tudo se faz pelo estímulo da vaidade, por isso se julga perdida uma façanha, que não tem quem a divulgue; como se um ato generoso consistisse mais em se saber do que se obrar. A vaidade que nos move, não é pela substância da virtude, mas pela glória dela.
(fragmento 68, reflexões sobre a vaidade dos homens, de matias aires ramos da silva eça)
terça-feira, 28 de agosto de 2012
samba-canção da presença e da ausência
Não, eu não me incomodo de você dizer pra todo mundo que eu fui ingrato.
Por não te agradecer pela lanterna que dispensa o uso de pilhas; o espanta-mosquitos de ondas ultra ou infrasônicas (desculpe, eu nunca fui bom em física); os organizadores de gavetas, que nunca chegaram a separar as minhas cuecas das tuas; o cão de pelúcia que ressonava, teu presente de aniversário do nosso primeiro mês de namoro.
Porque nada daquilo preenchia o vazio, o buraco escuro que, desde o primeiro dia, a tua ausência pressentida cavava, com uma colherinha de chá, a minha solidão.
Por não te agradecer pela lanterna que dispensa o uso de pilhas; o espanta-mosquitos de ondas ultra ou infrasônicas (desculpe, eu nunca fui bom em física); os organizadores de gavetas, que nunca chegaram a separar as minhas cuecas das tuas; o cão de pelúcia que ressonava, teu presente de aniversário do nosso primeiro mês de namoro.
Porque nada daquilo preenchia o vazio, o buraco escuro que, desde o primeiro dia, a tua ausência pressentida cavava, com uma colherinha de chá, a minha solidão.
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
domingo, 26 de agosto de 2012
2 motivos para escolher não mais voar pela TAM
Eu sempre simpatizei com a TAM. Gratuitamente. Talvez pelos preços, pelo tratamento diferenciado que dava aos passageiros, no início, antes de se tornar uma mega-companhia aérea. Ou pelo sistema de milhagens um pouquinho mais justo que o das outras companhias, ou, sabe-se lá o motivo. Sempre que podia, voava de TAM.
Até o vôo de hoje. JJ3828. Do Rio de Janeiro para Brasília. O incidente ocorrido beirou ao absurdo.
Era passagem comprada em promoção: R$ 99 cada trecho. Bom para companhia, que preenche a aeronave e bom para o passageiro que economiza uns trocados.
Eu estava ciente da regra: passagem de promoção não tem direito a escolher poltrona. O check-in automático me destinou o lugar 11F. Beleza, na frente. Acomodei a bagagem, sentei-me, prendi o cinto de segurança e retomei a leitura iniciada na sala de espera.
O vôo estava vazio, sábado à noite, talvez 2/3 dos lugares preenchidos.
Todo mundo conhece o extremo incômodo de uma viagem dessas, mesmo que por 90 minutos. Espaço mínimo, pernas encolhidas, coluna vertebral maltratada. Às vezes eu nem reclino a poltrona, porque não adianta e ainda piora a situação do passageiro de trás. Porém, pouco depois da decolagem, o passageiro da frente baixou a sua, fixando o encosto a uma distância de pouco mais de 10 centímetros da minha cabeça. Para não ser esmagado e conseguir continuar a leitura, tentei ganhar espaço reclinando também a minha. Sem êxito, pois a minha era fixa.
Resignei-me. E me adaptei à situação.
No entanto, lá pelo meio da viagem, olhei para trás e constatei que duas fileiras, de ambos os lados do corredor, estavam vazias. Me acomodei em um daqueles lugares. Mal abri o livro, fui interrompido pela comissária me perguntando se aquela era a minha poltrona. Educadamente respondi que não, mas como a minha não reclinava e aquelas estavam vazias, tinha tomado a liberdade de mudar.
A moça nem disfarçou a impaciência de explicar o inexplicável: aqueles lugares estavam reservados para pessoas que pagaram por eles. Só que essas pessoas não haviam comprado os lugares, argumentei, e provavelmente não os reivindicariam, ali, a não-sei-quantos-mil-pés de altura. Inocente, até me dispus a negociar a diferença de valor. A moça foi irredutível. Não havia argumentos. Nem pagando. Era a política da empresa. Os nove lugares permaneceriam vazios e ponto final.
Custava muito ela me deixar ali, nos 45 minutos restantes da viagem, como um bônus, um agrado, um cala-boca, em nome da empresa, a um cliente com dor no pescoço?
A situação merecia um barraco. Mas mantive a classe. Ridiculamente, disse que registraria a reclamação. Voltei ao 11F, abri o livro e demorei a me concentrar na leitura, de tanta indignação.
Primeira lição da moça-empresa: pobre (leia-se “quem compra passagem em promoção”) tem mais é que se ferrar. Espremer-se, pra deixar de ser pão-duro.
Não acabou por aí. Minutos depois, vem o carrinho do lanche. Não abri a bandeja (sinal de que não desejava comer) e continuei lendo. Pois a moça, a mesma, sem me olhar ou perguntar o que eu queria, literalmente jogou o lanche na minha direção. Da mesma forma que se joga um peixe a uma foca ou um osso a um cão.
Era demais.
Devolvi lanche. Se fosse estourado, enfiava a porcaria do lanche carrinho adentro, goela adentro da moça mal-educada (morena, bonita, rabo-de-cavalo – de tanta raiva nem li o nome dela no crachá) que falava, agia e estava sendo extremamente grosseira - em nome da TAM.
Então compreendi o bordão da empresa, mais ou menos como: “o passageiro é quem escolhe a companhia pela qual deseja voar”. Traduzindo: Passageiro, adeque-se aos nossos maus serviços, à grosseria de uma ou outra de nossas funcionárias, porque agora que a gente cresceu, a gente é quem manda. Não reclame, não reivindique. Se não gostar, dane-se, você tem toda a liberdade de procurar outra.
Segui o conselho. Escolhi. Espero não voar mais pela TAM.
Até o vôo de hoje. JJ3828. Do Rio de Janeiro para Brasília. O incidente ocorrido beirou ao absurdo.
Era passagem comprada em promoção: R$ 99 cada trecho. Bom para companhia, que preenche a aeronave e bom para o passageiro que economiza uns trocados.
Eu estava ciente da regra: passagem de promoção não tem direito a escolher poltrona. O check-in automático me destinou o lugar 11F. Beleza, na frente. Acomodei a bagagem, sentei-me, prendi o cinto de segurança e retomei a leitura iniciada na sala de espera.
O vôo estava vazio, sábado à noite, talvez 2/3 dos lugares preenchidos.
Todo mundo conhece o extremo incômodo de uma viagem dessas, mesmo que por 90 minutos. Espaço mínimo, pernas encolhidas, coluna vertebral maltratada. Às vezes eu nem reclino a poltrona, porque não adianta e ainda piora a situação do passageiro de trás. Porém, pouco depois da decolagem, o passageiro da frente baixou a sua, fixando o encosto a uma distância de pouco mais de 10 centímetros da minha cabeça. Para não ser esmagado e conseguir continuar a leitura, tentei ganhar espaço reclinando também a minha. Sem êxito, pois a minha era fixa.
Resignei-me. E me adaptei à situação.
No entanto, lá pelo meio da viagem, olhei para trás e constatei que duas fileiras, de ambos os lados do corredor, estavam vazias. Me acomodei em um daqueles lugares. Mal abri o livro, fui interrompido pela comissária me perguntando se aquela era a minha poltrona. Educadamente respondi que não, mas como a minha não reclinava e aquelas estavam vazias, tinha tomado a liberdade de mudar.
A moça nem disfarçou a impaciência de explicar o inexplicável: aqueles lugares estavam reservados para pessoas que pagaram por eles. Só que essas pessoas não haviam comprado os lugares, argumentei, e provavelmente não os reivindicariam, ali, a não-sei-quantos-mil-pés de altura. Inocente, até me dispus a negociar a diferença de valor. A moça foi irredutível. Não havia argumentos. Nem pagando. Era a política da empresa. Os nove lugares permaneceriam vazios e ponto final.
Custava muito ela me deixar ali, nos 45 minutos restantes da viagem, como um bônus, um agrado, um cala-boca, em nome da empresa, a um cliente com dor no pescoço?
A situação merecia um barraco. Mas mantive a classe. Ridiculamente, disse que registraria a reclamação. Voltei ao 11F, abri o livro e demorei a me concentrar na leitura, de tanta indignação.
Primeira lição da moça-empresa: pobre (leia-se “quem compra passagem em promoção”) tem mais é que se ferrar. Espremer-se, pra deixar de ser pão-duro.
Não acabou por aí. Minutos depois, vem o carrinho do lanche. Não abri a bandeja (sinal de que não desejava comer) e continuei lendo. Pois a moça, a mesma, sem me olhar ou perguntar o que eu queria, literalmente jogou o lanche na minha direção. Da mesma forma que se joga um peixe a uma foca ou um osso a um cão.
Era demais.
Devolvi lanche. Se fosse estourado, enfiava a porcaria do lanche carrinho adentro, goela adentro da moça mal-educada (morena, bonita, rabo-de-cavalo – de tanta raiva nem li o nome dela no crachá) que falava, agia e estava sendo extremamente grosseira - em nome da TAM.
Então compreendi o bordão da empresa, mais ou menos como: “o passageiro é quem escolhe a companhia pela qual deseja voar”. Traduzindo: Passageiro, adeque-se aos nossos maus serviços, à grosseria de uma ou outra de nossas funcionárias, porque agora que a gente cresceu, a gente é quem manda. Não reclame, não reivindique. Se não gostar, dane-se, você tem toda a liberdade de procurar outra.
Segui o conselho. Escolhi. Espero não voar mais pela TAM.
sábado, 18 de agosto de 2012
estante
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