Contabilidade das 2 últimas semanas:
3 projetos planilhas justificativas somatórios formulários cronogramas orçamentos metas objetivos desdobramentos mapas currículos gráficos cifras ajustes portfolios e-mails etc. 1 hora imobilizado, entre 3 caminhões, aguardando a liberação da estrada. Muitos cigarros & nem uma gota de álcool. 2 míseras páginas do Machado e 1 ou outra página do Plutarco ou do Mãe antes de cair no sono. 1 pacote de doce de amendoim. 1 pote de doce de leite com pau de mamão. 1 garrafão de água mineral. Sensação de dúvida quanto a ter ou não valido a pena a trabalheira.
...
Sessão Netflix depois do estresse:
Bonequinha de luxo (Breakfast at Tiffany's): figurino impecável de Audrey Hepburn. cena do início impactante para justificar o título. A sexualidade obscurecida do michê-escritor. A festa quase feliniana. O quase-noivo rico brasileiro. O disco de aula de português de Portugal. O gato sem nome que rouba a cena. Imperdoável só ter visto agora.
Drop dead diva: hilário nos primeiros episódios, mas começando a ficar repetitivo.
O 13o. Guerreiro. Filminho ruim com o sempre sofrível Antonio Banderas interpretando um poeta árabe que se juntou a um grupo de vikings trash (!) para guerrear contra seres primitivos na Escandinávia.
Orange and black. Série também chatinha sobre a vida de presidiária de uma ex-lésbica chique. Parei no 2o. episódio.
Gonzo: The Life and Work of Dr. Hunter S. Thompson. Documentário sobre o escritor-jornalista que viveu intensa e ativamente os anos 70 nos EUA. Visto a conta-gotas.
Malévola. Linda Angelina Jollie, como sempre. Efeitos especiais de encher os olhos. Argumento legal. Só não entendi o motivo de ter achado o filme tão chato.
...
Ninguém para dançar a quadrilha de São Pedro.
...
Do novo amor, os óculos. E sono sempre atrasado.
domingo, 29 de junho de 2014
sexta-feira, 20 de junho de 2014
ainda sobre a correspondência de machado de assis
Machado responde uma semana depois. A carta publicada no jornal onde trabalhava é a própria crítica solicitada.
A introdução é sobre a incipiente e árdua tarefa da crítica literária, da qual era um precursor no Brasil. Esbraveja contra a futilidade e a vaidade dos contemporâneos e contra a malévola influência estrangeira.
É elegante nos elogios a Alencar. Ironiza sutilmente as adjetivações da descrição da Tijuca, pelo autor consagrado. Para não ficar atrás, também ilustra o texto com personagens e passagens mitológicas.
Elogia Castro Alves. Minimiza os senões e as imperfeições de Gonzaga, justificando-os com a pouca idade do autor. Vislumbra um futuro brilhante ao poeta.
Futuro esse que só se materializou postumamente. Um ano depois da visita a Alencar e Machado, Castro Alves fere o pé com um tiro, em uma caçada. A ferida agrava-se, até a amputação da perna (sem anestesia, segundo o historiador Sérgio Buarque de Holanda). Seu estado de saúde é delicado, devido à fragilidade provocada pela amputação e pela tuberculose. Volta para a Bahia. Morre em 1871, com 24 anos.
A introdução é sobre a incipiente e árdua tarefa da crítica literária, da qual era um precursor no Brasil. Esbraveja contra a futilidade e a vaidade dos contemporâneos e contra a malévola influência estrangeira.
É elegante nos elogios a Alencar. Ironiza sutilmente as adjetivações da descrição da Tijuca, pelo autor consagrado. Para não ficar atrás, também ilustra o texto com personagens e passagens mitológicas.
Elogia Castro Alves. Minimiza os senões e as imperfeições de Gonzaga, justificando-os com a pouca idade do autor. Vislumbra um futuro brilhante ao poeta.
Futuro esse que só se materializou postumamente. Um ano depois da visita a Alencar e Machado, Castro Alves fere o pé com um tiro, em uma caçada. A ferida agrava-se, até a amputação da perna (sem anestesia, segundo o historiador Sérgio Buarque de Holanda). Seu estado de saúde é delicado, devido à fragilidade provocada pela amputação e pela tuberculose. Volta para a Bahia. Morre em 1871, com 24 anos.
quinta-feira, 19 de junho de 2014
leitura clássica: correspondência de machado de assis
José de Alencar escreve a Machado pedindo que este publique uma crítica sobre o jovem poeta Castro Alves, vindo direto da Bahia. É uma carta toda empolada, o oposto do estilo do destinatário. Como não podia deixar de ser, para conseguir o intento, Alencar finaliza a missiva com uma bajulação descarada:
Lembrei-me do senhor. Em nenhum concorrem os mesmos títulos. Para apresentar ao público fluminense o poeta baiano, é necessário não só ter o foro de cidade na imprensa da Corte, como haver nascido neste belo vale do Guanabara, que ainda espera um cantor.
Seu melhor título, porém é outro. O senhor foi o único de nossos modernos escritores, que se dedicou sinceramente à cultura dessa difícil ciência que se chama crítica. Uma porção de talento que recebeu da natureza, em vez de aproveitá-lo em criações próprias, teve a abnegação de aplicá-lo a formar o gosto e desenvolver a literatura pátria.
Do senhor, pois, do primeiro crítico brasileiro, confio a brilhante vocação literária, que se revelou com tanto vigor.
Seja o Virgílio do jovem Dante, conduza-o pelos ínvios caminhos por onde se vai à decepção, à indiferença e finalmente à glória, que são os três círculos máximos da divina comédia do talento.
...
A carta é rebuscada. Alencar cita o tempo o todo os clássicos, em uma erudição empoeirada aceitável no século XIX mas quase hilária na pós-contemporaneidade. Em 8 páginas, são inúmeras as figuras, trocadilhos, aforismos e eruditismos pérolas que Alencar pontua o texto. Vale a pena:
Nasceu na Bahia, terra de tão belos talentos; a Atenas Brasileira que não se cansa de produzir estadistas, oradores, poetas e guerreiros.
A genealogia dos poetas começa com seu primeiro poema.
O talento é uma religião, a palavra um sacerdócio - para elogiar o caráter do Dr. Fernandes da Cunha - um dos pontífices da tribuna brasileira.
Receber Cícero que vinha apresentar Horácio, a eloquência conduzindo pela mão a poesia, uma glória esplêndida mostando no horizonte da pátria a irradiação de uma límpida aurora.
Carecia de ser Hugo ou Lamartine, os poetas-oradores, para preparar esse banquete de inteligência.
Em literatura não há suspeições: todos nós, que nascemos em seu regaço, não somos da mesma família? Mas a todos o vento da contrariedade os tem desfolhado por aí, como flores de uma breve primavera.
Alguns têm as asas crestadas pela indiferença; outros, como douradas borboletas, presas da teia d'aranha, se debatem contra a realidade de uma profissão que lhes tolhe os voos.
...
Sobre a Tijuca, no Rio de Janeiro, onde Alencar morava:
O senhor conhece essa montanha encantadora. A natureza a colocou a duas léguas da Corte, como um ninho para almas cansadas de pousar no chão.
Aqui tudo é puro e são. O corpo banha-se em águas cristalinas, como o espírito na limpidez deste céu azul.
Respira-se à larga, não somente os ares finos que vigoram o sopro da vida, porém aquele hálito celeste do Criador, que bafejou o mundo recém-nascido. Só nos ermos em que não caíram ainda as fezes da civilização, a terra conserva essa divindade de berço.
A Tijuca é um escabelo entre o pântano e a nuvem, entre a terra e o céu. O coração que sobe por esse genuflexório, para se prostrar aos pés do Onipotente, conta três degraus: em cada um deles, uma contrição.
A chuva borrifou de aljôfares; as névoas delgadas resvalavam pelas encostas como as fímbrias da branca túnica roçagante de uma virgem cristã.
O primeiro degrau seria o Alto da Boa Vista, de onde se descortina longe, serpejando pela várzea, a grande cidade réptil, onde as paixões pululam, etc etc. O segundo degrau é para as bandas da Gávea, em um lugar chamado Vista Chinesa. Ali, escreve Alencar, Deus entregou a um de seus arcanjos o pincel de Apeles, e mandou-lhe encher aquele pano de horizonte. O terceiro degrau é o Pico da Tijuca, de onde os olhos deslumbrados veem a terra como uma vasta ilha a submergir-se entre dois oceanos, o oceano do mar e o oceano do éter.
Prossegue:
Nessas paragens não podia meu hóspede [Castro Alves] sofrer jejum de poesia. Recebi-o dignamente. Disse à natureza que pusesse a mesa, e enchesse as ânforas das cascatas de linfa mais deliciosa que o falerno do velho Horácio.
A natureza da terra de Castro Alves era comparável à exuberância da Tijuca. Lá, ela abandona-se lasciva como uma odalisca às carícias do poeta.
...
Depois dessa breve introdução, Alencar desmancha-se em elogios às excelências da língua portuguesa no estilo de Castro Alves. Afirma que o poeta é discípulo de Vitor Hugo. Chama-o de Ticiano da Literatura. Fala que os moldes ousados da frase de Castro Alves são como os de Bevenuto Cellini. Afirma faltar maturidade e de pequenos senões em alguns trechos da peça Gonzaga, justificáveis pela tenra idade do poeta. Assim por diante.
...
Alencar, aos 40 anos, era já um escritor consagrado. Machado, aos 30, era um jornalista reconhecido mas ainda não tinha alcançado o auge literário. Castro Alves, 21 anos, apresentava ao grande Alencar os manuscritos da peça Gonzaga, encenada algumas vezes mas só publicada postumamente, 3 anos depois da visita ao Rio de Janeiro.
...
Dever de casa para o leitor que conseguiu ler até aqui: pesquisar na Wikipedia os nomes próprios citados nos trechos extraídos da carta escrita por José de Alencar a Machado de Assis, em fevereiro de 1868.
Lembrei-me do senhor. Em nenhum concorrem os mesmos títulos. Para apresentar ao público fluminense o poeta baiano, é necessário não só ter o foro de cidade na imprensa da Corte, como haver nascido neste belo vale do Guanabara, que ainda espera um cantor.
Seu melhor título, porém é outro. O senhor foi o único de nossos modernos escritores, que se dedicou sinceramente à cultura dessa difícil ciência que se chama crítica. Uma porção de talento que recebeu da natureza, em vez de aproveitá-lo em criações próprias, teve a abnegação de aplicá-lo a formar o gosto e desenvolver a literatura pátria.
Do senhor, pois, do primeiro crítico brasileiro, confio a brilhante vocação literária, que se revelou com tanto vigor.
Seja o Virgílio do jovem Dante, conduza-o pelos ínvios caminhos por onde se vai à decepção, à indiferença e finalmente à glória, que são os três círculos máximos da divina comédia do talento.
...
A carta é rebuscada. Alencar cita o tempo o todo os clássicos, em uma erudição empoeirada aceitável no século XIX mas quase hilária na pós-contemporaneidade. Em 8 páginas, são inúmeras as figuras, trocadilhos, aforismos e eruditismos pérolas que Alencar pontua o texto. Vale a pena:
Nasceu na Bahia, terra de tão belos talentos; a Atenas Brasileira que não se cansa de produzir estadistas, oradores, poetas e guerreiros.
A genealogia dos poetas começa com seu primeiro poema.
O talento é uma religião, a palavra um sacerdócio - para elogiar o caráter do Dr. Fernandes da Cunha - um dos pontífices da tribuna brasileira.
Receber Cícero que vinha apresentar Horácio, a eloquência conduzindo pela mão a poesia, uma glória esplêndida mostando no horizonte da pátria a irradiação de uma límpida aurora.
Carecia de ser Hugo ou Lamartine, os poetas-oradores, para preparar esse banquete de inteligência.
Em literatura não há suspeições: todos nós, que nascemos em seu regaço, não somos da mesma família? Mas a todos o vento da contrariedade os tem desfolhado por aí, como flores de uma breve primavera.
Alguns têm as asas crestadas pela indiferença; outros, como douradas borboletas, presas da teia d'aranha, se debatem contra a realidade de uma profissão que lhes tolhe os voos.
...
Sobre a Tijuca, no Rio de Janeiro, onde Alencar morava:
O senhor conhece essa montanha encantadora. A natureza a colocou a duas léguas da Corte, como um ninho para almas cansadas de pousar no chão.
Aqui tudo é puro e são. O corpo banha-se em águas cristalinas, como o espírito na limpidez deste céu azul.
Respira-se à larga, não somente os ares finos que vigoram o sopro da vida, porém aquele hálito celeste do Criador, que bafejou o mundo recém-nascido. Só nos ermos em que não caíram ainda as fezes da civilização, a terra conserva essa divindade de berço.
A Tijuca é um escabelo entre o pântano e a nuvem, entre a terra e o céu. O coração que sobe por esse genuflexório, para se prostrar aos pés do Onipotente, conta três degraus: em cada um deles, uma contrição.
A chuva borrifou de aljôfares; as névoas delgadas resvalavam pelas encostas como as fímbrias da branca túnica roçagante de uma virgem cristã.
O primeiro degrau seria o Alto da Boa Vista, de onde se descortina longe, serpejando pela várzea, a grande cidade réptil, onde as paixões pululam, etc etc. O segundo degrau é para as bandas da Gávea, em um lugar chamado Vista Chinesa. Ali, escreve Alencar, Deus entregou a um de seus arcanjos o pincel de Apeles, e mandou-lhe encher aquele pano de horizonte. O terceiro degrau é o Pico da Tijuca, de onde os olhos deslumbrados veem a terra como uma vasta ilha a submergir-se entre dois oceanos, o oceano do mar e o oceano do éter.
Prossegue:
Nessas paragens não podia meu hóspede [Castro Alves] sofrer jejum de poesia. Recebi-o dignamente. Disse à natureza que pusesse a mesa, e enchesse as ânforas das cascatas de linfa mais deliciosa que o falerno do velho Horácio.
A natureza da terra de Castro Alves era comparável à exuberância da Tijuca. Lá, ela abandona-se lasciva como uma odalisca às carícias do poeta.
...
Depois dessa breve introdução, Alencar desmancha-se em elogios às excelências da língua portuguesa no estilo de Castro Alves. Afirma que o poeta é discípulo de Vitor Hugo. Chama-o de Ticiano da Literatura. Fala que os moldes ousados da frase de Castro Alves são como os de Bevenuto Cellini. Afirma faltar maturidade e de pequenos senões em alguns trechos da peça Gonzaga, justificáveis pela tenra idade do poeta. Assim por diante.
...
Alencar, aos 40 anos, era já um escritor consagrado. Machado, aos 30, era um jornalista reconhecido mas ainda não tinha alcançado o auge literário. Castro Alves, 21 anos, apresentava ao grande Alencar os manuscritos da peça Gonzaga, encenada algumas vezes mas só publicada postumamente, 3 anos depois da visita ao Rio de Janeiro.
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Dever de casa para o leitor que conseguiu ler até aqui: pesquisar na Wikipedia os nomes próprios citados nos trechos extraídos da carta escrita por José de Alencar a Machado de Assis, em fevereiro de 1868.
diário depois da invernada
O céu azul do inverno e a luz da tarde dourando tudo. Azul e ouro como a sala do palácio da Rainha Vitória, na Escócia, no filme visto outro dia.
...
Por falar em filme, a crueldade, a corrupção, a falta de escrúpulos durante toda a série e concentrada no último episódio de Os Bórgias: torturam e cortam o dedo do filho adolescente da inimiga Catarina Sforza. Cesare, o cardeal primogênito bastardo do papa Alexandre VI, assassina o irmão general do exército papal e sifilítico Juan Borgia. Antonetto, o capataz gay de Cesare, tortura até quase a morte, corta a língua, e auxilia a queimar na fogueira Savonarola, o frade florentino, visionário e louco. Por o próprio provador de alimentos consegue envenenar o papa.
Se eu acreditasse em reencarnação, certamente eu teria vivido por ali. Se soubesse ler e escrever, teria escrito um diário, perdido para sempre.
Ou, mais provável, teria sido analfabeto. Quem sabe um cavalariço, como o belo Paolo, um dos amantes de Lucrécia? uma prostituta romana? um peixeiro ou vendedor de batatas? um peregrino? um frade? um penitente fanático?
...
Ainda sobre poderes sobrenaturais:
Ele me telefonou reclamando de dor insuportável nas costas. Que eu fosse buscá-lo no trabalho dali a meia hora. Desliguei. Do nada minhas costas começaram a doer. Muito. 15 minutos depois ele liga de novo. Dizendo que eu não precisava me dar ao trabalho de me deslocar tantos quilômetros para buscá-lo, pois a dor que ele sentia desaparecera milagrosamente.
...
De manhã, no rádio do carro, tocou Construção, de Chico Buarque, cantada por Zé Miguel Wisnik e Luiz Tatit.
Eu tinha 15, 16 anos (lá pelo fim dos anos 70) mas era totalmente imaturo quando ouvi a música pela primeira vez.
Foi impactante. Talvez um dos elementos que contribuíram na passagem da infância para a adolescência. Comprei todos os discos dele, e de quebra, muita MPB. Depois dessa fase nunca mais ouvi a música.
Hoje, quando começou a tocar no rádio, parei o carro no acostamento. Para prestar atenção na letra. Primorosa. Nem precisa dizer que a letra é extensa e as rimas são todas com palavras proparoxítonas, isso a gente aprendeu no cursinho pré-vestibular. O maravilhoso é a poesia de cada verso.
Na primeira estrofe o texto é quase literal, situando a história na realidade concreta. A partir da segunda estrofe a estrutura dos versos é a mesma, alterando-se somente as últimas palavras (proparoxítonas), transportando o ouvinte (ou o leitor), degrau por degrau, da construção real para uma construção paralela, essencialmente mágica. Para, no último verso, fazer o leitor (ou o ouvinte) em queda livre, estatelar-se na contramão da realidade palpável. Atrapalhando o cotidiano do sábado.
...
Depois da carência exagerada da invernada, o dia de quase verão que fez hoje açulou os instintos de Zildinha. A bichana estava indomável. Não me deu bola. Nem um ronronar, um miado, sequer um olhar. Passou o tempo todo no quintal, entre as touceiras de plantas ou sob a jaboticabeira espreitando os pássaros. Nem fugiu de medo dos micos. Mal teve tempo para comer e fazer as necessidades na caixa de areia.
Agora mesmo pulou na escrivaninha. Eu, crente que ela ia sossegar, pedir cafuné no focinho. Que nada. Da mesa ela saltou para a janela e da janela para o jardim, de novo. Como um relâmpago. Agarrados na pele muitos carrapichos, folhas e ramos secos e um cocozinho que, talvez na pressa ela, sempre tão higiênica, tenha se esquecido de enterrar.
...
Lendo a correspondência de Machado. Mas isso será tema para outra postagem.
leitura imperdível da semana
de Berê Bahia
Edição do autor
2012
Uma reflexão sobre a história de Brasília através dos filmes que registram a saga da construção, da mudança da capital e seus desdobramentos políticos, culminando com o golpe militar de 1964, os anos de chumbo da ditadura, a abertura, a anistia, as eleições diretas para presidente, a volta da redemocratização e finalmente o cotidiano da cidade revelado pelas lentes dos brasileiros e brasilienses.
(do texto de apresentação, pela autora).
Leitura muito agradável. Desde os primeiros documentários feitos para cine-jornais da época da construção da cidade até os grandes clássicos do cinema brasileiro que passaram pelo Festival de Cinema de Brasília.
Paralelamente à exaustiva ficha técnica e sinopse dos filmes, Berê Bahia fala sobre a biografia dos diretores, atores e outros profissionais realizadores, narrando situações anedóticas de detalhes curiosos. Isso tudo situado e contextualizado aos fatos mais importantes da história brasileira no período.
quinta-feira, 12 de junho de 2014
diário sangrento
Especulando. Escarafunchando. Instigando. Expondo podres poderes.
...
E eu fui embora sem olhar nos olhos e sem dizer que era ele, depois de tantos anos, finalmente.
...
Discursos. Hiatos. Poemas inconclusos ou inacabados. Descartáveis.
Fabricando cubos de gelo.
...
Poças de sangue, merda, lama & esgoto. Sexo & tortura no filme da sessão da tarde. Luna llena de leche y sangre. Tantos títulos tantos argumentos inócuos.
...
Como assim? Sob a lua cheia & ventos invernais.
...
Como um peixe fora do aquário.
...
E eu fui embora sem olhar nos olhos e sem dizer que era ele, depois de tantos anos, finalmente.
...
Discursos. Hiatos. Poemas inconclusos ou inacabados. Descartáveis.
Fabricando cubos de gelo.
...
Poças de sangue, merda, lama & esgoto. Sexo & tortura no filme da sessão da tarde. Luna llena de leche y sangre. Tantos títulos tantos argumentos inócuos.
...
Como assim? Sob a lua cheia & ventos invernais.
...
Como um peixe fora do aquário.
segunda-feira, 9 de junho de 2014
algumas leituras recentes e recomendadas
1. Os rios profundos, José Maria Aguedas (Peru).
2. A avódezanove e o segredo do soviético. (Angola)
3. Cidades Rebeldes. Análise de diversos autores sobre as grandes manifestações populares ocorridas no Brasil a partir de junho de 2013.
2. A avódezanove e o segredo do soviético. (Angola)
3. Cidades Rebeldes. Análise de diversos autores sobre as grandes manifestações populares ocorridas no Brasil a partir de junho de 2013.
diário sintético
Cada vez mais atento aos sinais.
...
Invento motivos e enredos e argumentos e acontecimentos
enquanto o texto não vem.
...
Restam fragmentos de memória talvez ainda viva &
pulsante. Soterrada por escombros compostos de invólucros mortos da própria memória.
...
A geometria obtusa da cidade. Edifícios sobrepostos
enquadrados por uma lente objetiva que aproxima tudo. Que tira a profundidade
de tudo. Que me achata o olhar ao bidimensional.
Quase como uma pintura construtivista.
...
Enxergo como os peixes cegos das águas profundas e das
cavernas. Como o sonar dos morcegos. Te vejo com olhos de raio-X.
...
Aguardo do lado de fora do mundo. Da existência. Da
realidade palpável.
...
Não, eu não quero me comprometer com esse agora turvo e
tardio e moroso que se me apresenta.
...
A minha essência evita aglomerações.
...
Preciso urinar. Preciso de um café bem forte. Preciso de um sinal impreciso.
Preciso morrer por enquanto.
homens ilustres: coriolano
A próxima vida ilustre de Plutarco é Caio Márcio, chamado Coriolano. Um grande e controverso general romano, que viveu no século V a.C.
É uma história empolgante, cheia de escaramuças bélicas e políticas. Pouco a se acrescentar. A não ser sugerir a leitura da peça homônima de Shakespeare (que pode ser baixada clicando aqui). Ou assistir Coriolanus, filme de Ralph Fiennes (Inglaterra, 2011), que traz a história antiga para a os dias atuais.
sexta-feira, 6 de junho de 2014
diário obtuso
Saldo da tarde na TV da sala-de-espera do oftalmologista: reportagem sobre
cultura no Maranhão; diz-que-diz-que da vida privada das divindades do
candomblé; voz de veludo da diva cantando seus maiores sucessos; notícias apocalípticas das greves espalhadas pelo país. No mundo real todos os pacientes mesmo aqueles com pupilas dilatadas debruçados em seus
aparelhos celulares. Ah, tinha também as coxas grossas sob o jeans justíssimo do
rapaz feioso.
...
Expectativas (frustradas).
...
Baratas sobrevoam o céu da minha boca. Morcegos pendem da abóboda da caverna-catedral do meu peito. Roedores solapam a base das estruturas conceituais do meu mundinho contemporâneo.
...
Tento concentrar ideias em orações com 2 ou 3 palavras. Pensamentos-acrobacias sobre a motocicleta no globo da morte.
...
Divagando rememorando recapitulando reorganizando pensamentos e imagens.
...
hoje eu não vi o novo amor
...
Ando obtuso além do normal.
...
Expectativas (frustradas).
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Baratas sobrevoam o céu da minha boca. Morcegos pendem da abóboda da caverna-catedral do meu peito. Roedores solapam a base das estruturas conceituais do meu mundinho contemporâneo.
...
Tento concentrar ideias em orações com 2 ou 3 palavras. Pensamentos-acrobacias sobre a motocicleta no globo da morte.
...
Divagando rememorando recapitulando reorganizando pensamentos e imagens.
...
hoje eu não vi o novo amor
...
Ando obtuso além do normal.
quinta-feira, 5 de junho de 2014
para morrer basta estar vivo
A boa escrita tem regras esquisitas. Por exemplo, a de se evitar os jargões, os lugares-comuns, as frases feitas, os ditos populares. Eu gosto e as utilizo, talvez para expor a ironia da pretensão, nata ou inata em todos nós, de criar algo novo e grandioso. Por trás da obviedade algumas dessas construções de mau gosto têm muita sabedoria. Como o título acima.
...
Moro em uma casa com portas largas de vidro transparente. Ver o tempo todo o verde e grande parte co céu do mundo exterior provoca uma sensação agradável de se estar integrado e ao mesmo tempo protegido de tamanha exuberância.
Porém o vidro não é bom para os pássaros. Quando as portas estão fechadas em certas horas do dia, a paisagem reflete-se com tanta nitidez nelas que os pássaros se confundem. Eles não enxergam a barreira invisível. E se esborracham no vidro. Geralmente o choque é tão forte que (talvez devido à oleosidade das penas) o contorno do pássaro fica desenhado na superfície transparente.
Desenho delicado e terrível do momento exato em que a morte veio. Súbita, fulminante e inexplicável.
...
Como agora pouco, o pombo. Ou a pomba, para dar mais dramaticidade à narrativa.
Eu estava me preparando para trabalhar (leia-se: jogando candy crush) quando ouvi o estrondo. Já conhecendo os precedentes, nem me assustei.
Tinha sido na varanda. Estava lá o corpo encolhido no chão. Uma pomba grande, silvestre, da cor de cinza e prateado. Patas vermelhas, olhos fechados, um fio de sangue escorrido pelo bico. Penugem e grãos de ração semidigeridos espalhados em volta. No vidro, ao invés do contorno, um borrão pastoso escorrendo.
Pobre pomba. Tinha acabado de se alimentar. Pelo visto uma refeição lauta, compartilhada da vasilha de comida de algum cão da vizinhança. Tinha bebido água. Provavelmente os grãos inteiros de ração ela levaria para os filhotes no ninho.
A pomba devia estar feliz. Voava distraída, satisfeita depois das responsabilidades cumpridas: barriga cheia, alimento para a prole. Devia estar pensando em tirar o dia de folga, para simplesmente existir, aproveitar o céu muito azul, a temperatura agradável, o verde da grama e das árvores revivido depois da chuva do dia anterior, algum fruto do pomar - enfim, a manhã tão linda, em toda a sua plenitude.
Devaneio interrompido bruscamente pela barreira implacável do vidro.
Para sorte da pomba (será coerente associar os sentidos de morte e sorte?) de tão violenta, a passagem da dimensão real para alguma outra inexplicavelmente paralela, deve ter sido imperceptível. Pouco mais que um soluço.
Afirmar que na dimensão paralela o céu é mais azul ainda, a temperatura ainda mais agradável, o verde mais verde, a manhã mais linda e, espalhados pelo chão, pululam milhares de vasilhas de cães transbordantes de ração é pura pieguice ou carolice.
Depois do soluço-morte, imagino, a pomba adentrou no nevoeiro cinzento, úmido e denso onde voará sem pouso ou descanso por toda a eternidade.
...
Moro em uma casa com portas largas de vidro transparente. Ver o tempo todo o verde e grande parte co céu do mundo exterior provoca uma sensação agradável de se estar integrado e ao mesmo tempo protegido de tamanha exuberância.
Porém o vidro não é bom para os pássaros. Quando as portas estão fechadas em certas horas do dia, a paisagem reflete-se com tanta nitidez nelas que os pássaros se confundem. Eles não enxergam a barreira invisível. E se esborracham no vidro. Geralmente o choque é tão forte que (talvez devido à oleosidade das penas) o contorno do pássaro fica desenhado na superfície transparente.
Desenho delicado e terrível do momento exato em que a morte veio. Súbita, fulminante e inexplicável.
...
Como agora pouco, o pombo. Ou a pomba, para dar mais dramaticidade à narrativa.
Eu estava me preparando para trabalhar (leia-se: jogando candy crush) quando ouvi o estrondo. Já conhecendo os precedentes, nem me assustei.
Tinha sido na varanda. Estava lá o corpo encolhido no chão. Uma pomba grande, silvestre, da cor de cinza e prateado. Patas vermelhas, olhos fechados, um fio de sangue escorrido pelo bico. Penugem e grãos de ração semidigeridos espalhados em volta. No vidro, ao invés do contorno, um borrão pastoso escorrendo.
Pobre pomba. Tinha acabado de se alimentar. Pelo visto uma refeição lauta, compartilhada da vasilha de comida de algum cão da vizinhança. Tinha bebido água. Provavelmente os grãos inteiros de ração ela levaria para os filhotes no ninho.
A pomba devia estar feliz. Voava distraída, satisfeita depois das responsabilidades cumpridas: barriga cheia, alimento para a prole. Devia estar pensando em tirar o dia de folga, para simplesmente existir, aproveitar o céu muito azul, a temperatura agradável, o verde da grama e das árvores revivido depois da chuva do dia anterior, algum fruto do pomar - enfim, a manhã tão linda, em toda a sua plenitude.
Devaneio interrompido bruscamente pela barreira implacável do vidro.
Para sorte da pomba (será coerente associar os sentidos de morte e sorte?) de tão violenta, a passagem da dimensão real para alguma outra inexplicavelmente paralela, deve ter sido imperceptível. Pouco mais que um soluço.
Afirmar que na dimensão paralela o céu é mais azul ainda, a temperatura ainda mais agradável, o verde mais verde, a manhã mais linda e, espalhados pelo chão, pululam milhares de vasilhas de cães transbordantes de ração é pura pieguice ou carolice.
Depois do soluço-morte, imagino, a pomba adentrou no nevoeiro cinzento, úmido e denso onde voará sem pouso ou descanso por toda a eternidade.
quarta-feira, 4 de junho de 2014
homens ilustres: alcibíades
Alcibíades & Sócrates |
Até o vetusto Plutarco empolga-se ao descrever a beleza de Alcibíades:
Quanto a sua beleza, já não é necessário dizer nada. Direi somente, de passagem, que ela se manteve sempre florescente, na sua infância e adolescência, conservando-se perfeita em sua maturidade. Alcibíades se manteve assim, atraente e agradável em todas as estações de sua vida. [...] Foi essa porém uma característica peculiar de Alcibíades em virtude do equilívrio perfeitamente harmônico de seu corpo.
O único defeito era a língua presa. Mas nem isso foi motivo de chacota nem tirou-lhe a fama de bom orador. Pelo contrário. Os gregos achavam a pronúncia de Alcibíades um charme, uma certa graça ingênua e atraente.
Diz ainda o maledicente Plutarco que Alcibíades recusou-se a aprender a tocar flauta por que suas bochechas deformavam-se ao soprar o instrumento, estragando assim a harmonia de seu rostinho angelical.
...
Além de ser o gato mais lindo do pedaço, Alcibíades:
a) pertencia a uma das famílias mais tradicionais da Grécia (dizem que descendia do guerreiro Ájax, um dos dióscuros, filho da mortal Leda fecundada por Zeus em forma de Cisne);
b) Foi criado por Péricles (governante responsável pelo período de maior esplendor artístico e cultural de Atenas);
c) era rico, inteligente, espirituoso, simpático, generoso, competente, visionário, sensato, queridinho do povo;
d) e pândego, esbanjador, mimado, vaidoso, intolerante, orgulhoso, arruaceiro, volúvel, mulherengo, ciumento, possessivo, vingativo, etc.
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Alcibíades rapidamente ascendeu na política. Foi eleito comandante de uma expedição contra Siracusa, na Sicília, e fracassou. Ao mesmo tempo foi acusado de estar envolvido em crime de profanação sacrílega de estátuas de Hermes. Com isso foi destituído do cargo e condenado ao exílio. Refugiou-se em Esparta, onde instigou a guerra contra os atenienses, que estavam sob o jugo de políticos de índole duvidosa. Alguns anos depois foi perdoado e retornou do exílio. Voltou a Atenas para comandar a esquadra ateniense. Conquistou importantes vitórias sobre Esparta e recolocou o domínio do Mar Egeu nas mãos de Atenas. Mas em razão de artimanhas políticas, foi novamente destituído do cargo, fugindo então para a Pérsia, onde ficou amigo do rei, tornando-se seu conselheiro. Porém os invejosos políticos arranjaram um jeito de assassiná-lo.
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A amizade (ou o romance tórrido) entre o belo Alcibíades e o horroroso Sócrates foi imortalizada em um dos Diálogos de O Banquete, de Platão. O resumo é da wikipedia:
Alcibíades irrompe pelo banquete já bêbado e no meio da discussão sobre eros. Alcibíades enciumado arma o maior barraco ao ver Sócrates no banquete. Sócrates, por seu lado, implora a Ágaton que o defenda de Alcibíades: "Ele não larga do meu pé! Desde os tempos em que me apaixonei por ele eu não posso sequer olhar ou conversar com um único jovem belo!"
Alcibíades lança-se então em uma série de elogios a Sócrates, "logo que Sócrates começa a falar, fico fora de mim, o meu coração começa a saltar no meu peito, as lágrimas escorrem-me pelo rosto", e assim por diante.
A certa altura Alcibíades revela como tentou seduzir Sócrates usando os seus encantos físicos: "Eis que o convido para jantar, muito simplesmente à maneira de um amante que prepara uma cilada ao seu bem-amado" para conseguir obter dele tudo o que ele sabia. Mas em vão, mesmo depois de todos se terem ido e de Alcibíades se ter deitado no leito de Sócrates, sob a sua capa, nada mais aconteceu "do que se tivesse dormido com o meu pai ou com um irmão mais velho".
No final do diálogo, Sócrates e Alcibíades permanecem distantes e Sócrates remata: "Julgas, é claro, que eu tenho obrigação de te amar a ti e a mais ninguém. Mas não, não me escapaste, essa tua comédia de sátiros e silenos foi por demais evidente"
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Apesar da porralouquice da juventude e dos excessos e excentricidades durante a maturidade, Alcibíades foi um estrategista muito competente e um grande político. Defendeu, lutou e realizou grandes conquistas para Atenas, mesmo tendo sido expulso por duas vezes. Quem sabe o único bofe-escândalo com conteúdo e grandiosidade suficientes para ser imortalizado pela história.
diário homeopático
(Do Netflix:) Aprendendo sobre as maravilhas da vida selvagem cidades inusitadas, centenas de etnias e seus costumes milenares da China. Sobre a ridícula problemática masculina quanto o tamanho do pênis. Prosseguindo o veio histórico: depois das primeiras temporadas do Da Vinci Demons e de Vikings, os episódios de The Borgias, com Jeremy Irons no papel do papa e roteiro e direção de Neil Jordan.
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(Das leituras:) Agarrado no Plutarco, como dizem os mineiros.
Caindo na barriga do Grande Sertão, quando Riobaldo tenta fazer pacto com o diabo. (Barriga, no jargão teatral, é aquela parte da encenação que perde o ritmo ou o sentido, e onde fatalmente o espectador se distrai).
Procópio Dias é o primeiro personagem declaradamente cínico que encontrei na leitura de Machado (Iaiá Garcia).
Além disso: um romance para adolescentes interessante, onde o personagem vive cada dia no corpo de uma pessoa diferente. Um romance chatérrimo da biblioteca das moças intitulado Vendida! O Avesso da Cena, de Rômulo Avelar, bem legal, sobre produção e gestão cultural (para ficar afiado nos novos trabalhos). E o Antitratado de Cenografia, do Gianni Ratto, também para trabalhos futuros.
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(Do corpo:) Sem malhar por conta da possível tendinite no braço direito.
Ontem eu nadei sobre a água gelada e sob as nuvens cinzentas & os relâmpagos da tempestade.
O salva-vidas tem nome de filósofo e corpo de estátua gregos.
...
(Da mente e da alma:) Estopim curto. Autocontrole para não rodar a baiana diante do monólogo materno interior exteriorizado, ininterrupto, às primeiras horas da manhã e das invasões de domicílio a qualquer hora do dia. Tentando administrar o tempo produtivo, controlar as crises de ansiedade e debelar a inércia. Para não degringolar de vez persisto na abstinência alcoólica. Até quando?
...
(Do coração:) Administrando a possessividade. Convivendo com crises de pânico e de identidade.
Enganou-se quem disse que amar é paraíso.
...
(Para um futuro próximo cor-de-rosa:) Igatia Amara; Lycopodium Clavatum; Carbo Vegetabilis.
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(Das leituras:) Agarrado no Plutarco, como dizem os mineiros.
Caindo na barriga do Grande Sertão, quando Riobaldo tenta fazer pacto com o diabo. (Barriga, no jargão teatral, é aquela parte da encenação que perde o ritmo ou o sentido, e onde fatalmente o espectador se distrai).
Procópio Dias é o primeiro personagem declaradamente cínico que encontrei na leitura de Machado (Iaiá Garcia).
Além disso: um romance para adolescentes interessante, onde o personagem vive cada dia no corpo de uma pessoa diferente. Um romance chatérrimo da biblioteca das moças intitulado Vendida! O Avesso da Cena, de Rômulo Avelar, bem legal, sobre produção e gestão cultural (para ficar afiado nos novos trabalhos). E o Antitratado de Cenografia, do Gianni Ratto, também para trabalhos futuros.
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(Do corpo:) Sem malhar por conta da possível tendinite no braço direito.
Ontem eu nadei sobre a água gelada e sob as nuvens cinzentas & os relâmpagos da tempestade.
O salva-vidas tem nome de filósofo e corpo de estátua gregos.
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(Da mente e da alma:) Estopim curto. Autocontrole para não rodar a baiana diante do monólogo materno interior exteriorizado, ininterrupto, às primeiras horas da manhã e das invasões de domicílio a qualquer hora do dia. Tentando administrar o tempo produtivo, controlar as crises de ansiedade e debelar a inércia. Para não degringolar de vez persisto na abstinência alcoólica. Até quando?
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(Do coração:) Administrando a possessividade. Convivendo com crises de pânico e de identidade.
Enganou-se quem disse que amar é paraíso.
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(Para um futuro próximo cor-de-rosa:) Igatia Amara; Lycopodium Clavatum; Carbo Vegetabilis.
domingo, 1 de junho de 2014
da série: na cozinha com lavoisier
Constate que os roncos da tua barriga são sinal de fome. E que você está imobilizado uma preguiça mortal de enfrentar o trânsito e a espera no restaurante, às 13 horas do domingo. Verifique as hipóteses parcas da despensa e da geladeira: 1 porção de arroz congelado; um pedaço de gorgonzola restante do último evento, há uns 15 dias atrás; meia dúzia de castanhas-do-Pará que sobraram do preparo da granola; 3 dentes de alho meio murchos resgatados de uma cabeça esquecida; sal, azeite; orégano; pimenta-do-reino moída; pimenta dedo-de-moça; queijo goiano ralado no lugar de parmesão.
Corte os dentes de alho em fatias finas. Retire as sementes da pimenta dedo-de-moça e corte-a em rodelas. Refogue no azeite. Junte o orégano e a pimenta-do-reino, sal a gosto e deixe dourar. Despeje aos poucos o arroz previamente descongelado no micro-ondas. Mexa bem. Quando estiver bem quente, misture as castanhas picadas e o gorgonzola esfarelado e desligue o fogo.
Unte a travessa refratária ou de inox com azeite. Despeje a mistureba. Cubra com o queijo ralado e leve ao forno até dourar. Retire e sirva com a salada de agrião e alface que sobreviveram milagrosamente por 2 semanas na gaveta da geladeira.
Convide alguém muito especial, tipo o filho mais legal do mundo, e espere que ele que te ofereça para colaborar com o almoço improvisado. Levando, por exemplo, um tupperware cheio de strogonoff de frango, um saco de batata-palha e uma coca-cola 600 ml.
Deguste o prato e repita se quiser. Guarde as sobras para o dia seguinte (nunca se sabe). Permita que o filho lave a louça. E passe a tarde mais agradável dos últimos tempos jogando conversa fora e sendo feliz na companhia de quem você tanto ama.
Corte os dentes de alho em fatias finas. Retire as sementes da pimenta dedo-de-moça e corte-a em rodelas. Refogue no azeite. Junte o orégano e a pimenta-do-reino, sal a gosto e deixe dourar. Despeje aos poucos o arroz previamente descongelado no micro-ondas. Mexa bem. Quando estiver bem quente, misture as castanhas picadas e o gorgonzola esfarelado e desligue o fogo.
Unte a travessa refratária ou de inox com azeite. Despeje a mistureba. Cubra com o queijo ralado e leve ao forno até dourar. Retire e sirva com a salada de agrião e alface que sobreviveram milagrosamente por 2 semanas na gaveta da geladeira.
Convide alguém muito especial, tipo o filho mais legal do mundo, e espere que ele que te ofereça para colaborar com o almoço improvisado. Levando, por exemplo, um tupperware cheio de strogonoff de frango, um saco de batata-palha e uma coca-cola 600 ml.
Deguste o prato e repita se quiser. Guarde as sobras para o dia seguinte (nunca se sabe). Permita que o filho lave a louça. E passe a tarde mais agradável dos últimos tempos jogando conversa fora e sendo feliz na companhia de quem você tanto ama.
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