Em seguida "Sabonete", um conto curto de Juan Carlos Onetti. O cara está de férias. Dirige pela autoestrada deserta. Dá carona a alguém de sexo indefinido, que passa a ser chamado de Ele/Ela, parado na beira da estrada, carregando uma mala preta.
Tanto o garoto de Flannery quanto a personagem enigmática de Onetti estão parados na beira da estrada e não pediam carona. O garoto de Flannery perde a paciência com o discurso moralista do vagabundo. Xinga-lhe a mãe e desce com o carro ainda em movimento. O/A de Onetti fica. Torna-se objeto de curiosidade, fascínio e paixão do cara que lhe deu carona, que prefere evitar a descobrir a verdadeira identidade sexual do caroneiro, guardada na mala preta, trancada debaixo da cama, no quarto do chalé das férias.
O sono veio depois da leitura. Com pesadelos. O corpo esquartejado, o meu e ao mesmo tempo o de um afeto antigo, os pedaços guardados em sacos plásticos, cuidadosamente arrumados junto com rascunhos e manuscritos, em uma mala preta, de papelão, forrada por dentro de organza vagabunda, abandonada na beira da estrada.
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