quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

visita

Comprei mini-pizzas. Coloquei a coca zero no freezer. Dei ração e água aos bichos. Varri os tufos de pêlo do cão espalhados pela casa. Recolhi as roupas do varal. Tomei banho, fiz a barba, escovei os dentes e gargarejei com cepacol. Em exatos 30 minutos. O tempo da visita chegar.

Depois que a visita chegou, gastei mais 30 minutos para reduzir os batimentos cardíacos. Esforço enorme para desengasgar a voz e concatenar as palavras sem gaguejar. Para dar sentido às frases. Para encolher o riso de felicidade idiota que me rasgava a cara de orelha a orelha.

A pizza esturricou no forno. A coca zero congelou. Os pêlos do cão grudaram na roupa escura da visita. Cuidei para aparentar naturalidade. Suprimi comentários íntimos e lembranças. Para não impor à visita o constrangimento da minha saudade.

Falamos de bichos e de aparelhos eletrônicos. Da quantidade de meses que não nos víamos. De reformas e de projetos de vida. Do calor, da chuva, de falta de dinheiro. De doenças e de esportes radicais. Eu contei da viagem. A visita falou da velhice. Por mais de 3 horas nós arrodeamos diplomaticamente evitando o cerne.

Despediu-se com um abraço desajeitado. Eu, com um beijo que demorou a sair. Recendeu na sala, vindo de onde a visita sentou-se, misturado ao cheiro de cigarro, de grama cortada recente e de bicho, o perfume inconfundível dos dias passados que, pelo não dito e subentendido, eu tanto quis reviverem.

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