sábado, 23 de março de 2013

apoteose, anticlímax & eterno amor

Atravesso desertos e oceanos. Desterros e hecatombes desenrolam-se. Exércitos avançam. A tempestade de poeira se aproxima. A chuva de meteoros cruza a estratosfera e risca a noite de traços desfocados. Enquanto durmo. Enquanto sonho. Enquanto mantenho os olhos fechados.

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Enquanto durmo eu te te tenho inteiro, de novo, em mim. Eu sou você. Você é eu. Como foi um dia, como sempre foi, como será de novo um dia: gozo, prazer, felicidade. Do princípio até o fim dos tempos. Passando pelos intermináveis agoras das ausências.

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Nunca mais você.

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Você virá com a chuva ao anoitecer do último dia.

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Mas quando acordo, tudo o que era grandioso se esvai. As folhas murcham nos vasos. Os rebanhos minguam, os ovos goram, os pássaros esborracham-se nos vidros, as plantações são exterminadas pelos gafanhotos, os celeiros invadidos pelos ratos.

Os líquidos e a seiva secam no interior das glândulas, os músculos se recolhem, os cabelos e as unhas param de crescer. A existência fragmenta-se em tirinhas de 30 segundos.

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Eu morro a cada palavra que distingo do movimento mudo dos teus lábios. O mesmo desejo incontrolável e incontrolado que me põe em riste, que me ejacula e me esparge ao mundo, que me integra e me dá sentido à existência - ao mesmo tempo me desestabiliza e aniquila.

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As palavras se esvaem. Os sentidos adensados e intensificados diluem-se em lama, viscosa, pardacenta, fria, turvada de tédio e decepções.

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