Marta tinha a postura de quem sempre soube mandar. Usava roupas finas e brincos de pérolas. Gostava de gritar de madrugada. Xingava a torto e a direito, invocava satanás, fazia o sinal da cruz de cinco em cinco minutos. As filhas levaram-na embora, a contragosto.
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Toninha passa o dia sentadinha. Penteadinha, cheirosinha, carinha de bruxinha boazinha das histórias infantis. Fraseava ditongos, tritongos e hiatos ininteligíveis, coçava as mãos, apontava para o nada. O tempo todo levantava a saia, procurando o calor das brasas de um fogo apagado sabe-se lá há quantas eras.
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Dulcina, como o próprio nome, era a mais cordata de todas. Velha como um pajé, magra como um grilo, enrugada como um maracujá. Confundia qualquer visitante masculino com o neto. Convidava-os invariavelmente para um chope com batata frita e bolinho de bacalhau em um botequim de Copacabana.
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Potira era a mais esperta. Pra lá e pra cá, bolsinha preta debaixo do braço, cheia de contas para pagar. Coordenava o abrir e o fechar do portão eletrônico. Conversadeira, alegre, bem-disposta, negociava o imóvel com as visitas. Com o dinheiro da venda compraria uma casinha em Manaus.
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Aos 100 anos Zulmira continuava lúcida e independente. Dicção perfeita, os erres e esses dos plurais e das concordâncias. Só conversava com a enfermeira, a cozinheira e a diretora. Passava o tempo todo no quarto, só dela, bordando panos de prato. Esperando o filho que prometeu tirá-la dali assim que terminasse a interminável reforma do apartamento.
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