Jacques-Louis David, |
Os romanos raptaram as sabinas. Afugentaram os sabinos. Casaram-se com as raptadas e a vida seguiu na recém-fundada Roma.
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Os sabinos eram perfeccionistas. E lerdos. Enquanto preparavam-se para resgatar as filhas, esposas e mães, os romanos expandiam o império em velocidade vertiginosa.
Depois de longos anos, o exército dos sabinos ficou pronto. Era um exército grande, vistoso, bem treinado. No entanto havia um problema: como entrariam na inexpugnável Roma?
A solução foi a sabina Tarpéia. Ela estava até o pescoço com os romanos. Marcou um encontro secreto com o alto-comando do exército sabino. Tarpéia ficou fascinada com os braceletes de ouro que eles usavam. Negociou: abriria os portões, à traição, em troca do que os soldados traziam nos braços esquerdos.
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Tarpéia percebeu tarde a ambiguidade do acordo. Não sabia (ou não se lembrava) de que o que os sabinos amavam a traição enquanto ela era-lhes útil; odiavam-na logo que atingissem o objetivo.
Vale a pena ler a cena direto da fonte:
Assim fez então Tácio [o general]: pois, quando se viu dentro da fortaleza, ordenou aos sabinos que, de acordo com a promessa que fizera a Tarpéia, não lhe poupassem nem retivessem nada de tudo quanto traziam nos braços esquerdos; e tirando primeiro ele próprio de seu braço o bracelete que levava, atirou-lho, assim como depois o escudo: todos os outros fizeram outro tanto, de sorte que, lançada por terra a golpes de braceletes e de paveses, ela morreu sufocarda pelo fardo.
Corações de pedra o desses sabinos.
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O bicho pegou. A batalha no interior das muralhas foi difícil e demorada. Houve centenas de mortos de ambos os lados. Mesmo com Zeus-Júpiter encorajando os romanos.
De repente aconteceu o inesperado. As sabinas entraram no campo de batalha. Ensandecidas. Descabeladas. Aos prantos, aos gritos e aos clamores. Umas levando entre os braços filhinhos que ainda mamavam. Posicionavam-se diante das lanças e espadas, abraçavam os mortos e feridos.
Síntese do discurso delas: que já tinham sofrido horrores quando foram raptadas violentamente e contra as leis. Que os sabinos demoraram muito a resgatá-las. Que já tinham se acostumado e afeiçoado aos raptores. Que inclusive eram mães de filhos romanos. Que voltar para os sabinos e abandonar Roma seria mais doloroso que o rapto inicial. Enfim, que os sabinos aceitassem seus genros, cunhados e netos romanos e que os romanos fizessem as pazes com seus sogros e cunhados e acabassem de vez com a palhaçada.
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Sábias sabinas. Politizadas. Das primeiras defensoras dos direitos femininos. Pacificaram os litigiantes. Conquistaram o direito de ir-e-vir. A isenção de serviços domésticos chatos, exceto o de fiar. Dali em diante só usariam vestidos bordados (ou pintados?) de púrpura. Os cidadãos do sexo masculino seriam obrigados a ceder-lhes o assento nos transportes e lugares públicos. Foram proibidos de assediá-las, dizer piadinhas, palavrões, ou quaisquer coisas sujas e desonestas na presença delas.
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Epílogo:
O texto ficou comprido demais. Deixemos para amanhã o epílogo.
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