quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

diario de viagem - paraíba, litoral sul, dia 5


Acordamos. Ao abrir a porta, havia uma gata na varanda. Deitada na espreguiçadeira. Vira-latas, novinha, branca com manchas acinzentadas, olhos verdes, grávida. Carinhosa e amigável. Elas entram em êxtase quando são acariciadas na nuca, quando se puxa a pele do pescoço. Talvez se lembrem dos carinhos maternos. Acho que a gatinha queria entrar para parir dentro de casa. Fiquei apaixonado.

A ideia inicial era apresentar ao amigo as praias próximas: Tabatinga, Coqueirinho e Tambaba. Invertemos a ordem. Na praia naturista de Tambaba homem só entra acompanhado de mulher ou então com "passaporte naturista". Regra compreensível mas caduca, ridícula e preconceituosa. Não evita a entrada dos tarados de plantão e impede que gente legal aproveite uma das mais lindas praias brasileiras. Como ficam os gays nessa história?

Ficamos na barraca, em frente às formações rochosas e piscinas naturais. Água de coco, depois cerveja com macaxeira frita e alguns colírios. Eu preocupado com o tom arroxeado das queimaduras de pele nas pernas do amigo. Ofereci para levá-lo ao hospital. Mas, como diz a amiga NEH, o amigo é um bruxo. Inacreditável. Sabe quem aparece na barraca? Dr. Paiva, o dermatologista do amigo. Coisas do além.

Dr. Paiva sentou-se conosco. Tranquilizou-nos quanto à gravidade da situação. Receitou menos sol e muito hidratante. Falamos sobre arte (ele é colecionador), livros (ele é leitor) e viagens ao interior do Brasil, ao Vietnã. Viajante solitário, chegava de um longo tour pelo interior do Nordeste e Fernando de Noronha. Quando Dr. Paiva pediu o cardápio, repentinamente o amigo quis ir embora. Devia estar cansado da conversa.

Fomos então para Coqueirinho. Cheio de banhistas. Dois homens abraçados caminhando pela praia, trejeitos exagerados,provavelmente não-gays, provavelmente satirizando os gays para as mocinhas gostosas. Encenação com direito até a bitoca (colocando em dúvida as verdadeiras intenções da dupla). Coqueirinho é (ou virou) farofada. Um "shopping" ajeitado que reuniu algumas das barracas de sapé existentes anteriormente e um restaurante meio "metido", com cadeiras grosseiras e incômodas de espaldar alto, mesas forradas de feltro e cobertas de vidro. Cara de lugar evangélico, não fosse a venda de bebidas alcoólicas. Peixe frito bom, com quase uma tonelada de macaxeira frita - pelo dobro do preço que seria pago na barraca de Tambaba.

A essa altura (e da terceira ou quarta cerveja), na volta para casa eu já estava em pleno bode. Ainda abrimos outro vinho para dar sequência à conversa da noite anterior, mas eu não aguentei nem a primeira taça. Fui dormir.

Uma noite engraçada, diferente. Períodos de sono reparador intercalados por leituras: terminei o Safran Foer (Extremamente alto e incrivelmente perto), avancei no primeiro e segundo capítulos do livro da Angélica Madeira (arte em Brasília - os primeiros períodos - de 1958 aos anos 70) e na vertiginosa poesia de Roberto Piva (Obra reunida, vol. 2).

Detalhes na próxima postagem.


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