Outro dia levei uma bronca de um Leitor pela falta de rigor histórico no resumo da vida de Péricles (leia aqui). O Leitor indignado, além de descendente direto dos heróis, deuses, filósofos e matemáticos gregos, ainda era profundo conhecedor dos fatos que eu manhosamente distorci.
Justifiquei. Dei o braço a torcer. Para falar de temas árduos e empoeirados e ainda manter a multidão dos 4 leitores-seguidores do blog, a estratégia é fazer fofoca. Fofoca sobre gente famosa (mesmo que mortos há mais de 2 mil anos) rende mais popularidade do que os grandes feitos desses ilustres. Agô, Ibrahim Sued.
Assim, com o perdão do helênico Leitor amigo, prossigo a tarefa de resenhar Plutarco. Hoje para falar de Fábio Máximo, o biografado paralelo a Péricles.
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A árvore genealógica dos Fabianos é extensa e mitológica (dizem que o primeiro Fábio foi gerado pelo semideus Hércules no ventre de uma ninfa, à beira do rio Tibre).
Os antepassados de Fábio eram conhecidos por um nome não tão chique: Fodianos. A wikipédia explica, com uma pitada de malícia:
[...] pois eles [os Fodianos] capturavam animais selvagens em buracos-armadilhas; à época de Plutarco, a palavra latina fossae significava fossa, e o verbo fodere significava cavar; com o tempo, por uma troca de letras, a família passou a se chamar Fabii.
Como brinde do texto, uma nota de rodapé:
O verbo em latim fodere não deve ser confundido com o latim vultar futuere, que deu origem ao verbo em português foder; alguns analistas, porém, consideram que fodere e futere eram o mesmo verbo.
Como diria a amiga traveca: aff!
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Antes de ter recebido o apelido de Máximo, por seus grandes feitos, na adolescência Fábio ficou conhecido pelos colegas como Fábio Rulo (não me perguntem a razão); na juventude ele foi Fábio Verrugoso, por causa de um sinal semelhante a uma pequena verruga que lhe apareceu nos lábios. Mas talvez o apelido mais difícil dele conviver tenha sido Fábio Ovícula (= ovelhazinha).
Plutarco faz questão de enumerar os motivos da pecha):
- doçura excessiva, lentidão e peso do modo de Fábio agir desde a infância;
- natureza lenta, tranquila e repousada, atitude taciturna;
- ter sido visto poucas vezes brincando nos jogos infantis;
- ser duro de entendimento, tendo dificuldade em compreender o que lhe ensinavam;
- excessiva obediência a todos com quem andava.
Porém as aparências enganaram. Vistos de perto, a aparente tolice era uma gravidade inalterável; a timidez era prudência; o fato de não ser precipitado e inquieto era firmeza e constância. Ou seja, a renca de defeitos escondia a natureza imutável e a magnanimidade de leão - o futuro mais que promissor do garoto.
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Apesar dos grandes feitos e inúmeras batalhas vencidas, com os deuses intervindo a favor dos romanos, e de ter sido eleito Cônsul por 5 vezes, a sessão "fofoca" na vida de Fábio Máximo encerra-se logo no início. Depois do capítulo V, estendem-se 54 capítulos entediantes descrevendo escaramuças de guerra e negociatas políticas.
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Vale a pena descrever uma cena terrível, estratagema bélico em uma batalha entre cartagineses e romanos, nas famosas Guerras Púnicas:
O exército comandado pelo general cartaginês Aníbal tinha sido sitiado pelos romanos. Aníbal então determinou que fossem escolhidos 2 mil bois, dentre os capturados nas pilhagens, e fez amarrarem-lhes nos chifres tochas fabricadas com ramos de salgueiro e videiras secos. Quando veio a noite, Aníbal ordenou aos soldados que pusessem fogo aos feixes e tocassem os bois na direção dos romanos. Enquanto o fogo na cabeça dos bois era fraco, eles caminhavam calmamente pela encosta das montanhas. Porém quando os chifres foram queimados até a raiz e o fogo penetrou a carne viva, os bois começaram a debater-se e a sacudir as cabeças, espalhando entre si o fogo, cada vez mais. Movidos pela dor e pelo terror, começaram a correr de um lado para o outro, ateando fogo a tudo onde passavam.
De longe e no escuro, os sentinelas romanos pensaram serem os soldados inimigos avançando com archotes para cercá-los por todos os lados. Debandaram apavorados, deixando o caminho livre para o exército cartaginês que, aproveitando a confusão e a escuridão, avançou em linha reta para o acampamento romano, ganhando assim a batalha.
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Com isso, Fábio foi destituído do cargo pelo povo romano que, como já se viu antes, era volúvel. Um dia amava seus dirigentes, no outro o condenava. Mas quando a situação ficou preta de novo, o povo mandou chamar e reempossou Fábio; novamente o destituiu; assim, sucessivamente, por 5 vezes.
Depois da quinta demissão e da perda dos bens (dessa vez tinha sido condenado pelos senadores), Fábio seguiu para o exílio. Contraiu uma doença e morreu antes de ver o fim da guerra e a derrota de Aníbal. O povo romano (sempre do contra) reconheceu o heroísmo do biografado. Cada cidadão contribuiu com uma menor moeda existente, para render uma enorme homenagem à sua vida e virtude.
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