segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Deixe o prazer fluir

A carta de hoje, o 3 de copas, vigésimo quinto arcano, me manda deixar o prazer fluir. Pergunta há quanto eu não faço coisas que gosto. Sugere que eu relaxe e curta mais a vida. Que eu me abra ao prazer para que ele flua na direção do mundo. Que eu saia com os amigos, conheça pessoas, permita-me estar no mundo. Só assim o mundo me atenderá, possibilitando desfrutar dias agradáveis. Só assim minha alma ficará mais leve. Só assim minha visão sobre as coisas se alargará.
 ................................................................
 Tenho feito aquilo que gosto, sim. Talvez não com tanta intensidade. Fazer o que se gosta é difícil. Exige uma porção de coisas chatas: planejamento, estratégia, tempo, calendário, cartão de crédito, etc. Sobre relaxar e curtir a vida, conselho dificílimo de ser seguido pelos capricornianos. Estranha é a imagem do prazer fluindo na direção do mundo. Lembra golfada, enxurrada, ejaculação. Talvez seja por aí.
 ..................................................
 As últimas semanas aconteceram no piloto automático. Energia mal mal para assistir filmes gays sofríveis baixados na internet - garotos bonitinhos e seus draminhas existenciais e sexuais mais ou menos intensos – amores impossibilitado pela droga, pelos laços familiares, pelo álcool, pela loucura, pela incompetência. Salvam-se as trilhas sonoras ultracult de uns e de vez em quando cena erótica digna de rewind. 
 .............................................................................................................
 Leitura homeopática do romance-thriller da nigeriana Helen Oyeyemi, A menina Ícaro. Compra aleatória na promoção de R$ 9,90. Narrado por uma menina de 8 anos que lê Shakespeare, conversa sobre passagens bíblicas obscuras, escreve haicais, tem crises histéricas na escola  e – a parte previsível – encontra uma amiga imaginária ou do Além, malvadérrima. Morro de medo!
 .............................................................................................................
 Poema da garota:

Quando ela se foi, fiquei vazia.
Pensei que a lembrança eu guardaria
Mas ao procurá-la em minha mente
Fiquei sabendo que ela estava morta
Pedi para ir bater à sua porta
Para me encontrar e seguir em frente.
Não me deixaram, pois seu intuito
Era prender-me para todo sempre.
..............................................................................................................
 Com a chuva veio a melancolia. Da secura de alguns dias atrás à umidade relativa de 99%. A cidade úmida, as roupas úmidas, a alma, tudo cinzento, vontade de dormir, acordar, dormir de novo, dormir até chegar de novo a seca: a eletricidade no ar, a estática, só o essencial, a síntese, o estéril, a poeira vermelha em oposição ao excesso, a fertilidade, a terra, úberes, as sementes inchadas. 
 ..............................................................................................................
 Para completar a histérica alegria consumista natalina. Preparar o fígado, o estômago o sorriso colgate para as incansáveis festas de confraternização.
 ..............................................................................................................
 Exposição de nus masculinos comportados na quinta-feira. Fotos daquelas que se dá pra mãe no aniversário, alguém disse. Faltou o espírito transgressor dos anos 80, pitada de Mapplethorpe? No sábado, teatro. Fragmentos do Desejo, da Cia Dos a Deux. Lindas cenas sem palavras sobre, como sempre, relacionamentos. Pedofilia, abuso e incesto tudo junto logo na segunda cena. Luz, marcação, ritmo, cenário, interpretação, figurino, ritmo, sonoplastia, objetos e movimentação cênicos, até programa impecáveis. Sobrou final. Sempre sobra. Sensação de “podia ter acabado antes”. Fim do domingo sozinho no café pensando na vida e assistindo o bêbado dormir por cima do copo de uísque.
...............................................................................................................

Um comentário:

nana disse...

Que vida intensa!
Gostei
bjs
Nana