A carta de hoje, o 3 de copas, vigésimo quinto arcano, me manda deixar o prazer fluir. Pergunta há quanto eu não faço coisas que gosto. Sugere que eu relaxe e curta mais a vida. Que eu me abra ao prazer para que ele flua na direção do mundo. Que eu saia com os amigos, conheça pessoas, permita-me estar no mundo. Só assim o mundo me atenderá, possibilitando desfrutar dias agradáveis. Só assim minha alma ficará mais leve. Só assim minha visão sobre as coisas se alargará.
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Tenho feito aquilo que gosto, sim. Talvez não com tanta intensidade. Fazer o que se gosta é difícil. Exige uma porção de coisas chatas: planejamento, estratégia, tempo, calendário, cartão de crédito, etc. Sobre relaxar e curtir a vida, conselho dificílimo de ser seguido pelos capricornianos. Estranha é a imagem do prazer fluindo na direção do mundo. Lembra golfada, enxurrada, ejaculação. Talvez seja por aí.
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As últimas semanas aconteceram no piloto automático. Energia mal mal para assistir filmes gays sofríveis baixados na internet - garotos bonitinhos e seus draminhas existenciais e sexuais mais ou menos intensos – amores impossibilitado pela droga, pelos laços familiares, pelo álcool, pela loucura, pela incompetência. Salvam-se as trilhas sonoras ultracult de uns e de vez em quando cena erótica digna de rewind.
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Leitura homeopática do romance-thriller da nigeriana Helen Oyeyemi, A menina Ícaro. Compra aleatória na promoção de R$ 9,90. Narrado por uma menina de 8 anos que lê Shakespeare, conversa sobre passagens bíblicas obscuras, escreve haicais, tem crises histéricas na escola e – a parte previsível – encontra uma amiga imaginária ou do Além, malvadérrima. Morro de medo!
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Poema da garota:
Quando ela se foi, fiquei vazia.
Pensei que a lembrança eu guardaria
Mas ao procurá-la em minha mente
Fiquei sabendo que ela estava morta
Pedi para ir bater à sua porta
Para me encontrar e seguir em frente.
Não me deixaram, pois seu intuito
Era prender-me para todo sempre.
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Com a chuva veio a melancolia. Da secura de alguns dias atrás à umidade relativa de 99%. A cidade úmida, as roupas úmidas, a alma, tudo cinzento, vontade de dormir, acordar, dormir de novo, dormir até chegar de novo a seca: a eletricidade no ar, a estática, só o essencial, a síntese, o estéril, a poeira vermelha em oposição ao excesso, a fertilidade, a terra, úberes, as sementes inchadas.
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Para completar a histérica alegria consumista natalina. Preparar o fígado, o estômago o sorriso colgate para as incansáveis festas de confraternização.
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Exposição de nus masculinos comportados na quinta-feira. Fotos daquelas que se dá pra mãe no aniversário, alguém disse. Faltou o espírito transgressor dos anos 80, pitada de Mapplethorpe? No sábado, teatro. Fragmentos do Desejo, da Cia Dos a Deux. Lindas cenas sem palavras sobre, como sempre, relacionamentos. Pedofilia, abuso e incesto tudo junto logo na segunda cena. Luz, marcação, ritmo, cenário, interpretação, figurino, ritmo, sonoplastia, objetos e movimentação cênicos, até programa impecáveis. Sobrou final. Sempre sobra. Sensação de “podia ter acabado antes”. Fim do domingo sozinho no café pensando na vida e assistindo o bêbado dormir por cima do copo de uísque.
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Um comentário:
Que vida intensa!
Gostei
bjs
Nana
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