Era uma vez o reizinho Ricardo. Discursar no natal, abrir o bailinho do ano-novo e distribuir moedinhas de chocolate no dia de cosme-e-damião eram as suas atribuições. O resto do tempo o reizinho Ricardo tomava chá de rosinha do alto de seu troninho no salão mais chique da torrinha mais ajeitada do castelo.
Um belo dia a paz do reininho foi ameaçada. O generalzinho do reino vizinho rebelara-se, condenara à guilhotina a pobre rainha Barbie e declarara guerra ao reizinho Ricardo, ao reininho de Vitória Régia e ao principado dos Teletubbies.
O reizinho Ricardo convocou o Conselho de ministrinhos. Nunca tinham passado por situação semelhante. Telefonou para Vitória Régia. Se ela também não sabia o que fazer, imagina o destrambelhado príncipe dos Teletubbies!
À noite o reizinho não tomou a sopinha. Não comeu a maria-mole da sobremesa. Perdeu o sono pensando, abraçava os travesseirinhos, empurrava o edredon bordado com coelhinhos. Quando o dia amanheceu, o reizinho Ricardo urinou no peniquinho e decidiu aliar-se aos reinos ameaçados para enfrentar o generalzinho golpista.
O coração de Vitória Régia bateu forte pelo reizinho Ricardo. O príncipe dos Teletubbies decretou feriado. Elegeram o reizinho Ricardo chefe da tríplice aliança.
O reizinho Ricardo trocou o cetrinho pela espingardinha de chumbo. A coroa pelo elmo do bisavô. O manto com gola de pele pela roupinha a prova de balas. As meias de seda e as sapatilhas de cromo alemão pelas botinhas do Pequeno Polegar.
O coração de Vitória Régia bateu forte de novo, tão bonitinho era o reizinho Ricardo vestido de soldadinho.
O reizinho Ricardo passou em revista às tropas. Montado em seu cavalinho de platiplanto. Partiram. Era lindo o exército do reizinho Ricardo avançando pelos morrinhos verdes, os primeiros raios do sol incidindo nas cores das mil florezinhas das encostas e refletindo-se no laguinho azul. Mas a beleza durou pouco. Cem, mil, dez mil inimigos surgiram perfilados, bandeirinhas cor-de-rosa e fúcsia desfraldadas, cercando o exército do reizinho Ricardo.
O reizinho Ricardo fingiu que não viu. Insuflou patriotismo na tropinha, ao som dos clarins e tambores de música lounge. O exército do reizinho Ricardo avançava, como se se dirigissem para o piquenique da florada das cerejeiras.
A batalha foi sangrenta. Carnificina total. O reizinho Ricardo resistiu bravamente. Ele, que só sabia manipular as luzes laser do cetrinho a pilha. O exército do reizinho Ricardo foi dizimado. O estertor da morte dos soldadinhos, os cavalinhos estrebuchando em câmara lenta no campo de batalha, a agonia do reizinho Ricardo atingido no calcanhar pela flecha do generalzinho golpista.
Os sobreviventes voltaram como puderam para noticiar a derrota. O príncipe dos Teletubbies assinou armistício. Vitória Régia entrou muda em seus aposentos. Esperou a aia dormir. Tirou do bolso da anágua um punhalzinho de prata e o cravou impiedosamente no coração. Ao abrir as cortinas no dia seguinte a aia gritou. Viu uma rosa, mais rubra que os lábios da foto do reizinho Ricardo no portarretratos da cabeceira, brotada do peitinho branco de Vitória Régia.
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