segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O pato que queria ser o Tio Patinhas - parte 5


Era uma vez um peixe. Um peixe de classe média. Nasceu no meio dos juncos, cercado do carinho dos pais e da companhia dos irmãos. Frequentou os melhores jardins de infância Montessori, Piaget. Cursou o ensino básico e médio em escola alternativa, eubiose, método Paulo Freire. Fez aulas de inglês. Guitarra. Mergulho. Passou em primeiro lugar no vestibular. Cursou Direito, Administração, Contabilidade. Trabalhou nas empresas mais top do lago, galgando a ascensão profissional degrau a degrau. Até chegar a ouvidor na empresa subaquática do Tio Patinhas.

A função do peixe era, óbvio, ouvir. E solucionar. Ouvia reclamações das mais coerentes às totalmente esdrúxulas. E resolvia problemas em geral.

O dia em que fora salvo pelo pato foi péssimo. Se fosse possível, o peixe teria fumado um cigarro para desestressar. Problemas insolúveis. Pressão do chefe. Corte de gastos. Engarrafamento. Para completar, a tarrafa.

Embaraçou-se por pura distração. Quanto mais debatia, mais se embaraçava. Mínima chance de sobrevivência. Destino inglório o do peixe, tão estudado, tão competente, virar moqueca.

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