quarta-feira, 13 de abril de 2011
Bierce 3
"O que é um sonho? Um conjunto de memórias, à solta e sem lei - a sucessão desordenada de fatos que um dia fizeram parte da consciência desperta. Uma ressurreição de mortos, misturados - novos e velhos, o justo e o injusto -, saltando de seus túmulos desfeitos, cada um 'com as roupas que usou em vida', pressionando, de forma caótica, tentando obter uma audiência com o Mestre do Festim, agarrando-se uns aos outros na confusão da corrida. Mestre? Não. Ele abdicou de sua autoridade e são eles que o dominam. Sua vontade está morta e não se ergue como os demais. Sua capacidade de julgar também se foi e, com ela, o dom de surpreender-se. Talvez sinta dor e prazer, terror e encantamento, mas assombro não sentirá. O monstruoso, o grotesco, o insólito - tudo é simples, certo e razoável. O que é cômico não diverte, o que é impossível náo espanta. Aquele que sonha é seu único e verdadeiro poeta; ele é só imaginação". (Ambroise Bierce, Visões da Noite, trad. Heloisa Seixas)
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