quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

30 desenhos



Essas são as imagens e texto do convite da exposição 30 desenhos, minha primeira individual, no Espaço Cultural 508 Sul e em Goiânia, no ano longínquo de 1994.

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O resgate disso se deu em razão de uma brincadeira de internet: povoar o Facebook com imagens de arte, ao invés de pratos de restaurantes, eventos festivos ou animais de estimação. Fui provocado: eu deveria publicar uma imagem de trabalho do artista/escultor Maurício Bentes.

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Vamos aos fatos históricos.

Era 1994. Eu vivia um momento de reflexão, e só agora eu me dei conta disso. Do tipo: bonança depois da tempestade. Paz e tranquilidade depois do tumulto dos salões, das vernissages, das pinturas em grandes formatos, das visitas aos ateliês, das viagens, dos contatos profissionais promissores, que todo artista iniciante vive e almeja.

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Minha existência artística sustentava-se pela atuação paralela como caixa de banco. Eu trabalhava em uma agência recém-inaugurada em um órgão público. Por isso havia pouquíssimo movimento, exceto no período de pagamento.

Como bom capricorniano, eu não suportava os longos períodos de ócio forçado da agência. Então tive a ideia: cortar meus blocos de desenho em pequenos formatos (15 x 15 cm), comprar meia dúzia de novas canetas nanquim e levar tudo para o guichê do caixa. Eu preenchia o tempo desenhando nas longas horas do expediente bancário.

Assim surgiram, às centenas, os pequenos bicos de pena.

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Eram desenhos despojados e despretensiosos. Inspirados na anatomia fantástica de Ambroise Paré e nas ilustrações dos livros de ciência escolares.

Alguém gostou dos desenhos. Esse alguém comentou com fulano e sicrano e beltrano. Mesmo não havendo redes sociais, o material chegou às mãos de Maurício Bentes, artista que eu gostava muito, mas que só conhecia superficialmente. Naquele tempo as coisas eram mais fáceis, descomplicadas.

Maurício gostou dos desenhos. Incentivou. Sugeriu a exposição. Eu consegui o espaço. Na maior cara-de-pau, pedi: pô, Maurício, escreve pra mim! Ele escreveu.

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(Das centenas de desenhos, foram escolhidos e emoldurados 30, para a exposição. O resto foi queimado junto com muitos outros trabalhos, em um surto de loucura coletivo-doméstico. Restaram alguns, guardados para a posteridade em caixas de madeira fabricadas por mim, graças aos também dotes de marceneiro).

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A curadoria foi fundamental (agradecimentos eternos ao ex-!). Os desenhos foram valorizados pela moldura impecável, passe-partout importado, com filigrana dourada, com apoio da Casa da Moldura e do salário de bancário. A gráfica Charbel patrocinou o papel laminado do convite, gramatura 300 g/m2 (no mesmo formato dos desenhos emoldurados). O Espaço Cultural 508 Sul estava no auge, sob a direção e apoio irrestrito da dupla TT Catalão/Wagner Barja. A exposição na Galeria Parangolé foi um sucesso. Saiu até matéria em Jornal (Marcus Savini). Almir Israel fotografou os trabalhos (fotos perdidas).

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Foi a primeira (e única) vez que vendi trabalhos. Hoje dependurados nas paredes das casas das pessoas de gosto estético mais sofisticado da cidade.

Mas o mais importante foi a amizade com Maurício Bentes. Que durou pouco, mas foi intensa e frutificou. Deixando muitas saudades.


(Agradecimentos ao Leôncio Mário por resgatar esse momento)

2 comentários:

TT disse...

salve gladstone, revi esse auge. graças a talentos como o seu / tempos de cultura viva e 508 ativa
estou em google.com/+TTCatalao

Gladstone disse...

Valeu, TT. Encontrei as fotos da exposição. Publicarei em breve. Grande abraço saudoso!