quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

diário da terça-feira

Hoje foi um dia de inércia. De incapacidade diante da vida. De quase desespero diante da papelada intocada sobre a mesa. Dia de desistências abstratas. De ficar quieto, paradinho, esperando o dia passar.

Dia nem tão improdutivo assim. Escovei as bolas de pelo da gata. Falei ao telefone. Ouvi Jeff Buckley e apaguei de vez uns escritinhos fuleiros.

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Trouxe frutas do supermercado. Um melão muito amarelo. Uma banda de melancia vermelha como um sorriso. Bananas, laranjas, uvas na promoção. Trigo moído, cebolas, proteína de soja & tomates, pois amanhã será dia de quibe assado.

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Dia de assistir ao jardineiro capinar o mato e expulsar os morcegos do sótão. De regar os vasos com água misturada com fertilizante. De constatar que as lagartas estão acabando com as orquídeas. Dia de desperdiçar tempo diante da tela do computador. De tentar remendar os flashes e as lembranças do sonho da noite agitada. De conferir o extrato bancário e pedir ao homeopata reforço na dose do natrium.

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(O irmão me emprestou Os rios profundos, romance do peruano José María Arguedas, traduzido por Josely Vianna Baptista, da Companhia das Letras. Perdi na última viagem. Encomendei outro no sebo para repor a perda. Chegou hoje. Expectativa frustrada: linda edição contendo uma horrorosa tradução portuguesa).

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No final da tarde, em um ímpeto eufórico, dei um basta à morte-em-vida. Enchi a cuia com a erva-nova-trazida-diretamente-de-porto-alegre, aqueci a água até chiar na chaleira e subi para malhar. Carreguei nos pesos. Aumentei as séries e as repetições. Suei literalmente a camisa. Ouvindo Rage Against the Machine no último volume, até saturar os espaços vazios da existência.

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