quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

biblioteca para moças


 Essa foto é parte da "Biblioteca para moças". São 15 volumes (de um coleção com 180 títulos) de romances água-com-açúcar ingleses publicados pela Editora Companhia Nacional nos anos 1950. A coleção era barata, os títulos e as capas interessantíssimas, o estado dos livros razoável (eufemismo para "deplorável") e os nomes e/ou pseudônimos dos autores (Bertha Ruck, Elinor Glynn, Concordia Merrell, etc) me seduziram. Comprei.

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Por exemplo, o parágrafo mais picante de "Amor Subconsciente", é:

Colocou-a sobre o coração, cujo pulsar ela sentia através do seu próprio peito. Reclinou a cabeça dela sobre seu peito e beijou-a, primeiro suavemente e logo impetuosamente na boca, no pescoço.

A ideia inicial era criar versões gays para as histórias.

Para quê? Como vários outros, o projeto morreu na origem. Ainda tentei, mas ficou ridículo.
Imagine leitor(a) a dificuldade de transformar isso acima em uma cena entre 2 homens? Só apelando para sadomasoquismo explícito.

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São livros para formar as mocinhas, nossas mães ou avós, provavelmente. Ali elas aprenderiam a lutar e conquistar os seus futuros maridos, de preferência bonitos, ricos, gentis e inteligentes. A serem esposas lindas, charmosas, cheirosas e submissas à autoridade do esposo. A se comportarem bem nos ambientes sociais sofisticados. A se vestirem de acordo com sua posição social, a lidar com amigas menos favorecidas ou invejosas, com reviravoltas relacionadas ao dinheiro perdido pelo marido, com chantagens de tias recalcadas ou com mal-entendidos com sogras renitentes.

O machismo e a misantropia pululam a cada página. Os personagens são estereotipados: o mocinho rico mas desiludido com as mulheres; o mocinho fútil que descobre o sentido da vida ao se apaixonar pela mocinha pobre; a mocinha pobre mas inteligente e honesta; a mocinha rica a procurar um homem bom e desinteressado; além das tias solteironas parasitas, das confidentes traidoras, dos galãs coadjuvantes maus-caracteres, do amigo ou da amiga feios, assim por diante.

O cenário é sempre londrino, exceto as luas-de-mel, que acontecem em Paris. O escritório ou o ateliê de costura onde a mocinha pobre trabalha é na City. O restaurante do pedido de noivado é em West End. Os namorados (ou a mocinha desiludida e solitária) passeiam no Hyde Park. A casa da família do moço rico é em Southwark. Há sempre uma aldeia ou uma casa de campo ou um passeio de iate.

As peripécias até o desfecho são mirabolantes. Há sempre uma carta providencial, um acidente despropositado, um encontro no restaurante ou no elevador, - acasos às vezes absurdos para amarrarem, bem ou mal, a frouxidão do enredo e o final feliz: o casamento da mocinha com o mocinho.

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Como o projeto das versões gays picantes não vingou, resolvi (quando não houver assunto ou tema interessante para a postagem do dia) - para vossa alegria e deleite  leitor(a), publicarei resenhas dos romances lidos. Em breve: Amor Subconsciente, de Berta Ruck, volume 128.

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