sábado, 4 de junho de 2011

3 ou 4 formas de matar elefantes (4)

Nick Brandt, Elephant Drinking,www.artmo.com
"Em breve, perto de uma poça lamacenta, um pouco à nossa frente, descobrimos as pegadas de um macho enorme, que se rolara na lama, salpicando os troncos de várias árvores próximas e aparentemente muito velhas. (...) a alguns metros dali, afastando os ramos espinhosos de uma jujubeira, encontrei-me diante do elefante macho mais alto e maior que ainda tinha visto. O animal apresentava-se de flanco, a mais de uma centena de metros; sua atenção estava sendo atraída por uns cachorros que, despreocupados da sua presença corriam em torno dele, enquanto o velho parecia contemplar surpreendido aquelas singulares criaturas.
Parando o cavalo apontei-lhe a espádua e abati-o no primeiro tiro. A bala atingiu-lhe o alto da omoplata, tornando-lhe a marcha para sempre impossível; e antes mesmo que o tiro ressoasse nos meus ouvidos, vi claramente que o elefante estava entregue. Os cães romperam então a ladrar à volta dele; porém, sentindo-se reduzido à impotência, o velho macho pareceu decidido a não se afadigar, e dirigindo-se a passos lentos, coxeando, para uma árvore próxima, ali se postou quieto a observar os seus perseguidores com ar filosófico e resignado.
Resolvi consagrar um pouco de tempo à contemplação daquele nobre animal, antes de o abater; e tendo desselado os cavalos à sombra de uma árvore, sob a qual iria instalar o meu quartel-general para a noite e o dia seguinte, acendi imediatamente o fogo e pus água a ferver; minutos depois meu café estava pronto. Ali fiquei, sentado na floresta como em minha casa, saboreando calmamente meu café, enquanto um dos mais belos elefantes da África, encostado a uma árvore próxima, esperava o meu alvedrio.
Era, sem dúvida, um espetáculo impressionante; olhando aquele prodigioso veterano da flortesta, eu pensava nos fulvos cervos que gostava de perseguir na minha região natal, achando que se o destino me levara para um caminho mais árduo e perigoso em terra distante eu não perdera na troca, pois agora era dono de florestas imensas, que me ofereciam uma caça infinitamente mais nobre e mais apaixonante.
Tendo por muito tempo admirado o elefante, resolvi fazer experiências sobre os pontos vulneráveis, e acercando-me mais, coloquei-lhe diversas balas em diferentes partes do enorme crânio, que não pareceram absolutamente afetá-lo: apenas respondeu aos tiros recebidos com um movimento da tromba à maneira de saudação, ao msmo tempo que com a ponta desse órgão palpava levemente a ferida, num gesto especial e muito emocionante. Surpreendido e perturbado ao descobrir que apenas lograva torturar o animal e prolongar-lhe os sofrimentos, enquanto ele suportava a provação com tanta calma e dignidade, decidi acabar logo com aquilo. Abri então fogo contra ele, pelo flanco esquerdo, visando atrás do ombro, mas também ali minhas balas não produziram de começo nenhum efeito. Disparei 6 tiros, com minha arma de 2 ranhuras cuos ferimentos deveriam finalmente ser mortais, mas o elefante nem assim deu sinais de prostração; em seguida visei a mesma região com 3 tiros da minha holandesa de 6. Grossas lágrimas lhe escorreram então dos olhos, que fechou e tornou a abrir; sua imensa carcaça foi agitada de tremores convulsos, e caindo sobre o flanco o animal expirou. Suas defesas, de maravilhosa curvatura, eram as mais pesadas que eu ainda vira; pesavam cada uma cerca de 40 quilos. (R. Gordon Cumming - Five years of a Hunter's Life in the far Interior of South Africa - de 1850 - citado em Os Elefantes, Richard Carrington, 1963).

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