quinta-feira, 2 de junho de 2011

Intervalo com elefantes

Ao mesmo tempo que a dor ou a loucura lhes emprestam audácia, os elefantes solitários não tardam a encher-se de desprezo pelo gênero humano. Perdem a timidez e a prudência naturais e fazem atrevidas incursões nas terras cultivadas. Abatem cercas, até mesmo casas com uma desenvoltura maligna, e atacam sem hesitar qualquer ser humano que encontrem no caminho. Vejamos por exemplo uma das suas tropelias neste relato de Tennent: em pleno dia, perto de Ambogommoa, um elefante solitário observava um grupo de trabalhadores ocupados na colheita do arroz; atrevidamente avançou para o meio dos homens, apoderou-se de um feixe de e retirou-se tranquilamente para o mato com sua presa. O temor que inspiram esses solitários faz com que passem muitas vezes por comedores de homens. Assim, um elefante que pouco depois de 1870 manteve em terror toda a região de Mandla, perto de Jubbulpore, nas províncias centrais da Índia, teria, como era voz corrente, devorado pedaços das suas inumeráveis vítimas. Isto decerto não passa de lenda, pois os elefantes são exclusivamente vegetarianos, mas a superstição nasceu talvez do fato de o animal brincar com os membros dos indígenas despedaçados, que segurava na boca. Este elefante foi morto, afinal, por oficiais europeus.(Richard Carrington, Os Elefantes, 1963)

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