terça-feira, 18 de outubro de 2011

Beto


Mania de invocar desgraça. Qualquer motivo. Cebola. Brinquedo estragado. Escola. Bronca do avô. Não chama que ele vem. E veio. No dia do natal. Embirrou. Desgraça! A bike não era da cor, da marca, do modelo tal. Mas novinha em folha. Saiu pedalando. Ruas vazias do feriado. A corrente escapuliu. Logo no beco. Mão lambrecada de graxa. Que inferno! Ninguém por perto. Arrepiou sem nem ver. Chamou? Precisando de ajuda? A voz surgida do nada. Sapato, terno, camisa, gravata, cavanhaque, chapéu. Tudo preto. Chifre e cotoco de rabo? O dedo prendeu na catraca. A risada. Exu. Trancarrua do quartinho. Em carne e osso. Soube sem saber. Não olhar. Não responder. Muito menos encostar a mão. Pensou no avô. Na mãe. No anjo da guarda. Nos bracinhos do menino Jesus do presépio. Tremendo. Quando viu estava na rua de casa. Voando na bike. Consertada não se sabe como. Branco. O moleque viu assombração? Correu para o banheiro. Nunca mais palavra feia na boca.

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