Paulinho não se consolava. Emagreceu 1,5 quilos. Coitadinho. Dormia mal. Chamava por Ricardinho no pesadelo. Abraçava o travesseiro. Culpava a cama pela insônia. Pelos sonhos ruins. Pela separação. Urucubaca, pensou. Inveja. Energia negativa acumulada.
Paulinho não acreditava. Mas procurou uma vidente. Que vaticinou: era a alma penada da princesa acorrentada rondando. Reclamando a propriedade. Querendo dormir na cama. A vidente receitou um ebó light: espargir no quarto sal aromatizado, pétalas de rosas brancas secas e eau-de-cologne. Para a alma se desapegar. E descansar por toda a eternidade.
Paulinho fez tudo direitinho. Assim, pelo poder do ebó ou por autossugestão, dormiu bem. Por via das dúvidas comprou uma cama box super-king com colchão de mola ensacada. Travesseiros de astronauta. Desarmou e guardou a cama da princesa acorrentada no quarto da empregada que servia de depósito.
Os anos passaram-se. O Carvalho morreu de cirrose. A Divina, já avó, mudou-se para o Méier com as filhas e o neto. Ricardinho nunca mais deu notícias. A cama empoeirando no quartinho.
Paulinho estava com 40. Às vezes sozinho, às vezes casado, às vezes sozinho de novo. Depois de Ricardinho foram 3 relacionamentos sérios: Kaká, 32 anos, massoterapeuta e ator (4 anos juntos); Bernardo, 23, surfista (8 meses); e Armando, 44, empresário (8 anos no próximo mês).
(continua)
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