segunda-feira, 24 de outubro de 2011

quo vadis

Cabeça torta. Arcada estreita. Dentes encavalados. Em consequência do parto a fórceps. Para completar, olhos de sanpaku. Jabuti. Condenado ao isolamento eterno.

Como refúgio a Roma do legionário Marco Vinício. Nome que escrevia em letras góticas junto ao de Calina, dentro de um coração flechado, caneta vermelha na carteira. Às vezes em giz no quadro. Antes dos colegas chegarem.

Calina. Na vida real Solange. Cabelos compridos. Olhos pretos. Esbugalhados como os dele. Só que Solange era linda. Solange & corações preenchendo linha a linha a folha inteira do caderno.

O papel na mão da galera do fundão. Coro e cascudos da turba: Jabuti Jabuti Jabuti. Encolhido no canto. A cabeça, os bracinhos enfiados no casco. Que nunca chegasse às mãos, aos ouvidos de Solange.

Chegou. Atrasada. A lígia Calina segurou o papel. Nem se deu ao trabalho de escarnecer. Reles Jabuti. Picou o papel sobre o monturo encolhido. Sentou-se na primeira carteira. O trono da princesa. E nunca mais olhou para trás.
 
(Quo Vadis é um romance do escritor polonês Henryk Sienkiewicz – 1846/1916, ambientado na Roma Imperial, à época de Nero, cujo tema é a perseguição aos cristãos).

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