segunda-feira, 8 de abril de 2013

avós (1)

Minha avó materna chamava-se Maria Felizaura. Mais conhecida por Maria de Beda, não por causa do Venerável, mas pela alcunha do marido. Que se chamava Manoel, conduzia carros de bois pelo sertão entre Minas Gerais e Goiás, e morreu de doença de chagas, antes do meu nascimento.

A avó Maria de Beda morava sozinha em um casarão com piso de tábuas mal enceradas, teias de aranha no teto sem forro e uma maçaneta de cristal azul na porta de entrada. O quintal era um mundo fantástico e cheio de perigos, tais como as altíssimas mangueiras, os porcos no chiqueiro ou escorregar no limo e as tábuas podres do poço e da latrina.

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A avó Maria de Beda tinha uma irmã mais nova chamada Tia Cecília. Moravam com tia Cecília dois filhos de criação, com problemas mentais, que eu não entendia serem tão velhos e banguelos e ao mesmo tempo filhos dela: um era o Antenor; o outro era Bobo. Bobo tinha uma excrescência enorme no pescoço, chamada de papo. Meu pai me ensinou que o nome correto da doença de Bobo era bócio.

No quintal da casa de Tia Cecília tinha um rego d'água onde funcionava um pequeno monjolo para descascar arroz, um pé de carambola e muito coquinho babão, cujas castanhas Antenor e Bobo quebravam pra gente.

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