segunda-feira, 1 de abril de 2013

cinema domiciliar

Passei o domingo diante da tela. Pausando as tarefas, os projetos, as responsabilidades. Permitindo-me a entrega à sensação e à emoção. Enfrentando a culpa injustificada pelo ócio, pela vagabundagem, pelo fazer nada, o laissez-faire.

Vendo filmes. Entre soluços descontrolados, crítica ao mesmo tempo política e emotiva, atenção média ou tédio avassalador. Entre surpresas (o filme mais incrível dos últimos tempos) e decepções (qual a razão daquilo ter-se tornado clássico?).

Antes do almoço foi a vez do Beasts of the southern wild (Indomável sonhadora, em tradução equivocada e comercial). Independentemente da crítica (uso e abuso de temática infantil). Beasts..., é grandioso. Imagens pré-apocalípticas, futuristas, contundentes, surreais, tão poéticas e políticas. Texto e subtexto essencial (literatura sulista de Faulkner, Flannery O'Connor, Alice Walker, etc), iterpretação irrepreensível da menina, do pai, das crtianças, dos demais coadjuvantes. Uma América, americanos aos quais nunca antes eu tinha visto ou estava acostumado. Êxtase (e choro) durante quase todas as cenas.

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Depois de ver o Beasts..., convenhamos, leitor, a gente fica exigente.

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Em seguida, a produção nacional-global Gonzaga, de pai para filho (Breno Silveira, 2011), sobre a vida do rei do baião Luiz Gonzaga e de seu filho Gonzaguinha. Filme bem-feito, bem dirigido, com atuações surpreendentes (e arrancadoras de lágrimas furtivas) de Chambinho do Acordeão (Nivaldo da Costa Filho), como Luiz Gonzaga jovem, Adélio Lima (Gonzaga velho) e o convincente Júlio Andrade (como Gonzaguinha. Apesar do formato televisivo, do final teledramático, de apelo popular previsível das produções globais, o filme é delicado e arrebatador.

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Depois do almoço e do cochilo foi a vez do clássico requentado À boute de souffle (Acossado, Jean Luc Godard, 1959). Li na Wikipedia: Foi o primeiro filme de Godard. Foi rodado em poucas semanas. Aproveitou-se dos imporovisos e da espontaneidade e talento dos atores e da beleza das locações em uma Paris de cartão postal. Jean Seberg faz a linda e charmosa mocinha americana controversa; o gostosão (que boca, que pernas!) Jean-Paul Belmondo faz o anti-herói. O filme me fez constatar que a nouvelle vague é chata. Para aguentar até o final insosso, só intercalando o joguinho no celular e as atualizações nas redes sociais.

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Intervalo: a gata trouxe na boca, aos meus pés, um pardal. Ao qual consegui salvar sem anular o brio da conquista da bichana.

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Por fim, o filme dinamarquês concorrente ao Oscar O amante da rainha (Nicolaj Arcel, 2012). Baseado em fatos históricos. Figurino e cenários impecáveis. Mas roteiro previsível. Que me perdoem a ignorância (ou prepoência), mas o filme é muito clichê. Desde a caracterização dos personagens (o rei louco, a rainha progressista, a madrasta má, as artimanhas da corte, o amante, entre idealista e oportunista) ao roteiro previsível e entediante do meio para o final - à canastrice (proposital no Acossados do bloco anterior, mas deslocada aqui). Contemporaneidade forçada, entretenimento.

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O cão sonha e ronca. A gata dorme entre as toalhas, no banheiro. Para concluir a páscoa cinematográfica experimentarei o trash nacional A fuga da mulher-gorila (Felipe Bragança e Marina Meliande), o cult político Hunger (Steve McQueen) ou quem sabe, um drama-comédia gls bem alienado, que me anestesie ou desencave novas lágrimas, soluços ou excitamentos durante as poucas horas entre o fim do domingo e as primeiras horas da segunda-feira.

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