terça-feira, 23 de abril de 2013

avós (10)

Padrinho fumou até os quase 80 anos. Depois que meu pai morreu de câncer, ele procurou um médico. Diagnosticou-se o efisema pulmonar. Viveu mais uns 6 anos. Outra vez só com o salário-mínimo do INPS, foi morar com tia Clêu, única e última filha, o genro e as netas, minhas primas.

Deixou de tingir o cabelo, passou a usar um boné pavoroso, com a marca de fabricante de produtos esportivos ou de universidade americana, tênis surrados descombinando com a calça social marrom claro e camisa de gola abotoada até o pescoço.

Parou de implicar com minha mãe. Vinha uma vez por semana e passava a tarde sentado com ela, na varanda, tentando compreender a doutrina do espiritismo, rememorando o passado, chupando tangerinas ou carambolas. Os dois evitando diplomaticamente lembranças espinhosas.

Eu o vi algumas vezes. Indo embora ao final de tarde, caminhando na direção da parada de ônibus: vacilante, abatido, pouco mais que a sombra da altivez, da elegância e do orgulho do patriarca que ditava as regras de conduta para toda a família.

Tendo feito tudo (ou quase tudo) o que quis na vida, acho que morreu em paz.



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