quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Edu

A senhora com suas joias, o rapaz antes de mim com seus piercings e tatuagens, o guarda da portaria com seu mau-hálito, o supervisor com seus relatórios, a cantora que a garota falou agora pouco, todo mundo tem uma função, uma obrigação na existência, e a minha é essa. Achou engraçado? Eu acreditar na possibilidade de melhorar o mundo? Se quiser eu repito, e nem precisa de microfone. Eu creio no poder de canalizar a minha força, minha inteligência, minha capacidade, minha energia para o bem-estar coletivo. A senhora, por favor, anote aí na ficha. O candidato acredita que mudará o mundo. De louco, poeta e revolucionário todo mundo tem um pouco. Eu vou defender minhas ideias, seja à frente de uma sala de aula, sobre um palco ou diante de um pelotão de fuzilamento. A senhora deve ser daquelas pessoas que acredita que a arte, a cultura, a educação podem mudar o rumo da história. Eu lhe pergunto: de que adianta o bom gosto estético para quem não tem onde cair morto? De que adianta saber desenhar o nome em um pedaço de papel quando não se sabe o que encontrar no lixão para a única refeição do dia? A arte pode alimentar mais que um PF? O teatro pode aquecer mais que um cobertor? a literatura pode confortar mais que um teto de papelão? Deixa eu fazer só mais uma pergunta. Uma não, duas. Três: a senhora já sentiu fome? Fome mesmo, fome de saber que não achou nada pra comer no lixão? E frio? A senhora já levou porrada da polícia de madrugada para desocupar o viaduto? Então como a senhora pode dizer que nós somos iguais? A senhora deve se sentir aliviada quando joga moedinhas pela janela do carro acreditando que vai salvar a vida da criança que vende chiclete na sinaleira. Nós não somos iguais, não. Desculpe interromper, eu conheço essa: o beija-flor que tentava apagar o incêndio na floresta com aguinha no bico. Moral da história: cada um deve fazer a sua parte. É só pensar um pouquinho. Por mais bem-intencionado, o beija-flor agia individualmente. Como a senhora, com seu neoliberalismo. Então, fui bem? Deu um branco, tive que improvisar...

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