domingo, 6 de fevereiro de 2011

Sonja


Você tem que me cortar, porque quando me dão corda eu vou longe. Por favor, me avise quando faltarem 2 minutos. É, é, para eu ter tempo de concluir. Não pode? Posso deixar o cronômetro do celular ligado? Não? Certo, certo. Faz parte do processo, ok, ok. Posso? Assistir tevê me faz dar risadas. Humorista? Não, não, eu detesto programa humorístico. Detesto piada. Detesto graça da desgraça alheia. Detesto sátira, charge, caricatura, gag, pegadinha. Detesto gente que transforma a própria mediocridade em mediocridade universal. Não, não, pelo contrário, eu me considero uma pessoa super-hiper-bem-humorada. A tevê é engraçada porque é o espelho da condição humana. La televisione è lo specchio dove si riflette la sconfitta di tutto il nostro sistema culturale. Não, não é Umberto Eco. Eu vou além. Eu diria que a televisão espelha não só a derrota do sistema cultural, mas o próprio fracasso da nossa condição humana. Compreendeu? O que me faz morrer de rir na televisão é exatamente isso. A televisão faz refletir sobre o nosso ridículo existencial. Por falar nisso, eu me lembrei de Maugham. Sabe Maugham? A velha história do rapaz cheio de boas intenções que vê os ideais escoarem ralo abaixo por causa de um sentimento inferior? Por causa de uma paixão? É, é, novelinha, a nossa vidinha medíocre resumida em capítulos diários. Eu digo aos meus alunos logo no começo do semestre: a televisão é uma espécie de sumidouro onde a gente vê, passivo, escoarem-se as nossas boas intenções. Como o retrato de Dorian Gray. Claro que você entende. Dorian sublima toda a lama que o sufoca através do retrato, que envelhece no lugar dele. É, a nossa lama cotidiana, o telejornal, o talkshow, a minissérie, etcétera, a televisão é a transubstanciação da lama humana. Ai, já! Já mesmo? Nem deu tempo de falar da escola francesa.

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