Mesmo ultimamente avesso a grandes agitos, fui hoje ao Festival de Cinema assistir ao Rock Brasília, documentário de Vladmir Carvalho sobre o Capital Inicial, Plebe Rude e Legião Urbana, 3 bandas de rock que projetaram Brasília no cenário nacional da música (!) nos anos 80.
Nunca fui roqueiro. Nunca fui fã empolgado de nenhuma delas. Muito pelo contrário. Na época eu achava serem um bando de filhinhos de papai (expressão típica brasiliense) e de diplomatas bonitinhos fazendo um sonzinho inspirado em bandas inglesas debaixo do bloco. Exceto as letras quilométricas do Renato Russo, tudo era meio palha.
Mas me emocionei. Desde o discurso do diretor, antes do filme. Ou, melhor, do professor. Que ao invés de falar sobre o documentário, elogiou o trabalho de um dos alunos da época da universidade.
Sala lotada. Como nos velhos tempos, sentamo-nos na escada. Eu, uma amiga e meu filho.
O documentário começa com os pais e mães dos integrantes das bandas contando histórias sobre seus respectivos rebentos. Ops, um filme sobre rock com idosos? Em seguida os próprios popstars, hoje quarentões, lembrando de quando tinham 15 anos. Entrecaladas, cenas da história brasiliense recente. Ou nem tanto. Dos últimos 30 anos.
Para um não-fã, a fala dos roqueiros não era o principal. Eu nunca soube mesmo quem era quem, quem tocava o que, a qual banda pertencia um ou outro. O incrível era a sensação de ter estado presente. De ter participado. De também ter feito parte daquele momento da história.
E as cenas/entrevistas antológicas se desenrolando. Por exemplo, o depoimento de J. Pingo, que dirigiu Renato Russo em uma montagem teatral lá por 1985. O General Newton Cruz explicando porque brandia o chicotinho histérico sobre os motoristas na carreata pelas Diretas Já. Ou a manifestação contra a visita de Henri Kissinger à Universidade de Brasília.
É, eu estava lá. Em cada um daqueles momentos. Eu vivi aquilo. Frequentei aqueles lugares. Aqueles shows. Convivi com aquelas pessoas. A peça do Pingo. A carreata. A manifestação contra Kissinger (performático, rosto pintado de branco, mecha azul no cabelo, um torso de manequim envolto tule cor-de-abóbora, valham-me Apolo & Dionisos!). Era como se eu estivesse na tela.
Mas o mais emocionante ficou para o final. Vladmir pergunta a Briquet de Lemos, pai de dois homenageados, o que ele extraiu daquela época. Briquet sem palavras. Não se contém. Chora. Por fim consegue articular uma frase: que aquilo foi um aprendizado. Que ele aprendeu com os filhos.
E eu com meu filho ao lado. Emocionando-se comigo. Apre(e)ndendo aquele passado da mesma idade dele. Passado que o pai também fez acontecer. Passado que ele, mesmo sem entender bem, fez parte.
Saímos em silêncio. No meio da multidão barulhenta. Eu, a amiga, o filho. Chovia em Brasília.
Um comentário:
Saudades, Gladstone: de você, desse tempo de que tomamos parte. Lindo depoimento.
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