quarta-feira, 3 de abril de 2013

best-seller

Eu gosto de ler best-sellers. Daqueles que você não consegue largar. Que você vira noite e dia do final de semana lendo, sem comer nem dormir nem sair de casa, nada, até chegar ao último (e quase sempre frustrante) capítulo.

Mas isso não me incomoda. Nem os personagens estereotipados, inconsistentes, descritos com meia-dúzia de adjetivos. Nem a linguagem repleta de clichês, lugares-comuns, a tradução quase sempre pífia. Nem as ações que servem para qualquer situação. O que me admira é a técnica. Ou, melhor, a fórmula secreta que só os americanos (os ingleses em segundo lugar e uma exceção espanhola) dominam, para laçar o leitor.

Não importa o gênrero: suspense, policial, romance, histórico, religioso, ficção científica. Se tiver tudo junto, melhor ainda! Basta que a leitura flua. E, claro, a trama tenha um mínimo de coerência e poucos ou imperceptíveis furos.

Ressalto: coerente não significa plausível. Viajar no tempo a tempo de participar dos últimos momentos antes da crucificação de Cristo é um argumento coerente em sua implausibilidade. Porém cair de um helicóptero, em plena noite, no deserto, justo sobre uma tenda de beduínos, é abusar da boa vontade e do QI de qualquer leitor.

Desde que sirvam para preservar o suspense ou o fio da narrativa, os argumentos absurdos são admissíveis. Do tipo: porque o mocinho e a mocinha resolveram transar mesmo tendo sido avisados que o inimigo russo já subia as escadas do hotel decadente em um subúrbio de Barcelona? resposta: para inserir uma cena de sexo. Ou: porque os israelenses não tiraram logo no início do livro o raio-x da cabeça da hipotética messias para comprovar que não havia microchips instalados em seu cérebro? resposta: porque se fizessem isso, não haveria best-seller.

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Há uma maldição para o autor de best-seller. Será autor de obra única. Pois todo o resto que produzir, não passará de cópia, de repetição do sucesso original. Exemplo: há algum tempo li um recordista de vendagem sobre os mistérios que envolviam a Mona Lisa, a máfia, a Igreja Católica e os templários (lembrou, Leitor?).

Engatei na segunda obra do autor, lançada na rabeira do sucesso do primeiro. Uma droga! A mesma fórmula, a mesma estrutura, os mesmos personagens com nomes, cor de cabelo e profissões trocados. A diferença entre eles? no primeiro, era a autenticidade de um quadro. No segundo, a autencidade das provas da existência de vida extraterrestre em um meteoro. Bah!

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Estou lendo um best-seller romântico. Ambientado na Inglaterra e na Tailãndia. Em 2 planos temporais: durante a Segunda Guerra e nos tempos atuais. De autora inglesa (já escrevi sobre isso, até os nomes dos autores de best-sellers são únicos: Pâmela Glyn, Bertha Ruck, Mirtle Reed). Bem escrito. Para um público específico da categoria. Mulheres. De meia idade e solitárias. As personagens femininas são fortes, marcantes, belas, politizadas, algumas conturbadas. As masculinas, ao contrário, são confusos, fracos, dominados pelas mulheres e subliminar ou explicitamente feminilizados.

Acredita que o herói, até a quarta parte do livro, acreditava ser gay (inclusive tem várias experiências). Inexplicavelmente, casa-se com a mocinha por obrigação, vira hetero e protagoniza cenas calientes de sexo com uma ninfeta-amante talilandesa?

Tá bom, eu não vou criticar, eu não sou público-alvo. Mesmo assim não consigo parar de ler. Um, dois capítulos por dia. Estou louco de curiosidade pelo que acontecerá com os personagens atuais (a pianista e o descendente do lorde ex-gay) e com os antigos - o lorde, a esposa mal-amada, a amante e o único másculo jardineiro Bill, caracterizado com pinceladadas do amante de Lady Chatterley e que, provavelmente, será o responsável pelo desfecho da trama.

Quando acabar, eu prometo não contar o final.

Um comentário:

Gwavira Gwayá disse...

Eu não me importo que você conte o final. Eu até gosto! :) E continuo lendo com o mesmo entusiasmo, como se não soubesse!