quarta-feira, 21 de maio de 2014

história de verão insular 2

Ventava um pouco mas o sol da manhã te aquecia a pele. Você deixou partir o barco anterior só para ser o primeiro da fila do próximo e escolher a melhor cadeira do convés, no andar superior, para fotografar o mar azul turquesa durante a travessia do canal.

Você preparou a máquina fotográfica mas se distraiu admirando a paisagem: um bloco de rocha corroída da altura de um edifício de muitos andares emergindo do mar, gaivotas sobrevoando, ao fundo o cone do vulcão extinto e alguma neblina.

O rapaz vestido com jeans justos e casaco de couro e óculos rayban que você tinha notado no cais subiu a escada. Posicionou-se de pé, em frente às cadeiras ocupadas pelos passageiros, te obstruindo a visão.

O rapaz passava displicentemente a mão na região do baixo ventre. Como se o gesto fosse involuntário. Quem sabe um tique nervoso? Você desviou o olhar. Ligou e desligou a máquina fotográfica esquecida no colo. Pensou mas logo desistiu de se levantar e se encostar na amurada para sair do ângulo de visão do rapaz. Por fim guardou a máquina na mochila.

Você não conseguiu evitar olhar de rabo-de-olho. Constatou que o rapaz estava excitado. Você imaginou que ele tentava manter contato visual com você. Por detrás das lentes verde-escuras dos óculos. Você se constrangeu. Corou como uma virgenzinha.

Apesar de sexo casual não ser o seu propósito marinho matinal você tirou conclusões apressadas. A partir de incertezas. Encarou. Autojustificou-se: "vamos ver onde vai dar".

Sorriu maroto e discreto.

Coincidentemente a luz da cena mudou: uma nuvem encobriu o sol por alguns instantes. Justo o tempo de o rapaz franzir o cenho. Fazer cara de surpresa, aversão e desprezo, nessa sequência. Avançar na tua direção, você imaginou - que ele te fosse cuspir.

Mas ele sorriu e te estendeu o celular e te pediu para tirar uma foto dele, com o rochedo, o mar azul turquesa, as gaivotas e o cume do vulcão oculto pelas nuvens, ao fundo.

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