O general Pelópidas (séc. IV a.C) venceu uma das batalhas contra os espartanos com a ajuda do Batalhão Sagrado, uma tropa de elite do exército tebano que consistia de 150 pares organizados por idade. Vale a pena ressuscitar os 3 capítulos que Plutarco dedica a esse amoroso batalhão:
[...] compunha-se de trezentos homens escolhidos, assalariados e mantidos às expensas do erário público. [...] Outros querem dizer que era uma companhia de infantaria composta de homens enamorados uns dos outros. [...]
Plutarco cita o filósofo Parmênides que, com base na formação do Batalhão Sagrado tebano, criticou jocosamente a Ilíada de Homero, ao aconselhar os gregos a estratégia de se alinharem nas batalhas por nação ou linhagem:
Era necessário, dizia ele [Parmênides] colocar mais cedo um amante junto daquele que ama, porque os homens ordinariamente, ocupam-se bem pouco daqueles que são de sua nação nem de sua linhagem em perigo, mas um batalhão que seria composto de homens amorosos uns dos outros, não poderia jamais romper-se nem forçar, porque os amantes, pela afeição veemente que têm aos seus amados, tendo vergonha de fazer alguma coisa covarde ou desonesta diante de seus amantes, manter-se-iam uns por amor dos outros, até o fim.
No capítulo seguinte Plutarco discorre sobre aquele exemplo gay heróico clássico:
[...] se é verdade que os amorosos respeitam seus amores, mesmo quando estão ausentes, assim podem conhecer pelo exemplo, como daquele que, estando caído por terra, assim que seu inimigo levantou a espada para matá-lo, pediu-lhe que lhe desse o golpe de morte pela frente, com medo que seu amado vendo seu corpo morto, ferido nas costas, viesse a se envergonhar.
Plutarco prossegue falando dos amores entre Hércules e Iolau, de Laio (o pai de Édipo) e Crísipo (filho de Pelópidas) e de Platão, que chama o amante de amigo divino ou inspirado dos deuses.
Por fim o Batalhão Sagrado foi derrotado pelos exércitos de Filipe o Grande, da Macedônia. Quando Filipe percorreu o campo da batalha e deparou os trezentos homens do Batalhão Sagrado deitados por terra, todos perfurados por grandes golpes de lança através do estômago, e colocados, ainda cobertos com suas armas, uns junto dos outros, do que assombrou-se enormemente [...] e começou a chorar de piedade, dizendo: - "Que mal pode acontecer àqueles que julgam que tal gente faça alguma coisa de desonesto".
Plutarco encerra o excerto sobre o Batalhão Sagrado explicando as razões dessas estratégias militares pouco comuns:
[...]
Em suma, o inconveniente de Laio, que foi morto por seu próprio filho Édipo, não foi a causa primitiva deste costume que os tebanos tinham de serem amorosos uns com os outros, mas foram esses que primeiramente estabeleceram suas leis, os quais vendo que era uma nação corajosa e violenta por natureza, quiseram amortecer e adocicar um pouco a sua natureza, desde a infância e com esta intenção misturaram entre seus atos, o prazer e os deveres. [...] Igualmente também entre as diversões da juventude nos exercícios corporais, introduziram o uso do namoro, para temperar e adocicar os costumes e o natural de seus jovens. [...] isto dá a entender que, onde a força e a valentia militar estão unidas e conjuntas com a graça da aparência e da persuasão, todas as coisas são reduzidas por esta união, a um belo, esplêndido e perfeito governo.
...
Ou seja, o útil e o agradável para a felicidade geral da nação.
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