segunda-feira, 21 de novembro de 2011

escritos arqueológicos

Jogamos o jogo de encher e esvaziar formas. Eu lanço palavras vazias e você as preenche com argamassa. Eu recolho as palavras preenchidas. Modelo as palavras preenchidas em novas formas vazias. Você as preenche. Etcétera.

Minha vez: da janela duas mulheres sorriem e um vidro transparente nos separa.
Tua vez: uma delas sofre por envelhecer e a outra tem o riso oco de mãe satisfeita.
Minha vez: o vidro permite a imagem delas atravessá-lo mas também me reflete.
Tua vez: porque elas estão mais em ti do que tu nelas.

Eu: como o homem e a mulher do violoncelo no deserto.
Você: e você deserto, homem, mulher, música, vento.
Eu: a mulher atrás do dia.
Você: desde o princípio dos tempos.

...

A dissonância arranha teu ouvido. O mais agudo do violoncelo. Hipnotiza. E o som mais grave do órgão ecoa na nave da catedral. Eu me entrego.

...

A antepenúltima coisa a dizer é batiscafo. A palavra chega com vento de deserto. Mergulhar.

...

A penúltima coisa é: isto é uma sinfonia; escuta:

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