quarta-feira, 9 de novembro de 2011

o escriturário - parte 3

A história do escriturário não deu ibope. Nenhum acesso no post. Sequer um “curti” no Facebook. Assim, à moda das telenovelas inadimplentes (redução dos capítulos, extermínio de personagens secundários, mudança de caráter de protagonistas, revelação de segredos mornos ou assassinatos) aborta-se o projeto e anuncia-se, insistentemente, os últimos capítulos e cenas picantes da próxima.

O paper do escriturário suicida caiu nas mãos do chefe do Departamento de Pessoal da repartição. O chefe era um cara legal. Gostava de arte. Literatura. Era espiritualista. Escrevia versos. Tomava aulas de francês. E visitaria os grandes museus da Europa quando se aposentasse.

Além disso o chefe do Departamento de Pessoal redigia, editava, publicava e distribuía, de mesa em mesa, “O Farol”, semanário interno da repartição. Impressionou-se com a profundidade dos escritos do escriturário suicida. Condensou a coluna “causos” (onde publicava as cada vez mais escassas narrativas curiosas enviadas pelos funcionários) para inserir trechos dos escritos filosóficos do ex-servidor, classificados, segundo ele, por “focos temáticos”, a cada semana.

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