quarta-feira, 2 de novembro de 2011

se perguntassem como eu me sinto agora

(de http://dream-exchange.blogspot.com)
Primeiro ele disse que os gatinhos passavam bem. Que um papagaio tinha pousado na área de serviço. Que levaria o carro para a revisão na segunda-feira sem falta. Que mais tarde iria ao supermercado comprar leite de caixinha e biscoito água e sal para os ramsters.  No mesmo tom disse que eu fora (pretérito mais-que-perfeito) uma das pessoas mais importantes da vida dele (uma das?). Mas desde ontem ele estava confuso. Pediu tempo para refletir. Não tinha nada a ver comigo. O problema era ele mesmo. Eu já ouvira (!) essa fala quase sem variantes em pelo menos 2500 novelas. Tentei convencê-lo. Reafirmar o desejo de compartilhar com ele gatinhos, papagaios e ramsters e porque não filhinhos adotivos em uma casinha de condomínio. Ele não ouviu. Eu levava um fora por telefone. Em  ligação gratuita (o plano da prestadora) da pior qualidade. Perdi a conta do tempo das justificativas dele. Após o choque eu me desliguei. Ele falava e falava e falava. Eu lavava a louça da noite anterior que ele tinha ajudado a sujar. Celular preso entre o ombro e a orelha. Enxugando as lágrimas no pano de prato. De vez em quando eu respondia. Interjeições. Grunhidos. Não houve tempo para despedida. Ou promessas futuras. Ou ligação de arrependimento. O celular apagou de vez depois de cair na pia cheia de água engordurada.

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